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Formosuras do inverno!

Formosuras do inverno! Ao sol das duas horas
A aérea multidão de fadas quebradiças,
Gentis apparições dos bailes e das missas,
Desliza no fulgor das pompas seductoras.

No arfar da cazimira ha frases tentadoras
E maciezas taes nas languidas pelliças,
Que as tristes commoções, decrepitas, mortiças,
Resurgem do lethargo ó pallidas senhoras!

E muitos hão de ter uns extasis divinos
Ouvindo soluçar, á noite, aos violinos,
A vaga introducção d'uma balada aerea;

A PERDA D'ARZILLA. (1549).

Era noite: do céu limpo e sereno
Milhões d'estrellas trémulas pendiam,
Quaes as nocturnas lampadas d'um templo,
E as ribas ermas sussurrar se ouviam.
D'alterosa galé o negro vulto
Corta ao largo, bem largo, o mar do Algarve,
E lá nas serras d'Africa fronteiras
Branqueja a espaços o albornoz do alarve.

*SONETO D'UM POETA MORTO*

Achado nos seus papeis

Bem sei que hei de morrer cedo e cansado,
Alguma cousa triste em mim o diz,
E vagarei no mundo desterrado,
Como Dante chorando a Beatriz.

Pelos reinos, irei talvez curvado,
Como um proscripto princepe infeliz,
Ou como o indio pallido e exilado
Chorando o vivo azul do seu payz.

Mas no entanto, ah! ninguem ao Sol divino
Abrasou mais as azas, derretidas
Ante as duras, ferozes multidões!

NO LEITO NUPCIAL

    Dorme, estatua de neve,
    Vergontea de marfim!
    Tocar que impio se atreve
    No que é sagrado assim?

    Dois são: o mais, mysterio
    Vedado á terra. Deus
    Talvez do solio ethereo
    Nem baixe os olhos seus.

    Respeita-os, tapa-os, como
    Japhet e Sem, o pai...
    Pende, sagrado pomo!
    A vista ergue-se e cai.

    Ergue-se e cai, conforme
    A lei, que o manda assim.
    Ergue-se e... Dorme, dorme,
    Vergontea de marfim!

*Carta a Manoel*

Manoel, tens razão. Venho tarde. Desculpa.
Mas não foi Anto, não fui eu quem teve a culpa,
Foi Coimbra. Foi esta paysagem triste, triste,
A cuja influencia a minha alma não reziste,
Queres noticias? Queres que os meus nervos fallem?
Vá! dize aos choupos do Mondego que se callem...
E pede ao vento que não uive e gema tanto:
Que, emfim, se soffre abafe as torturas em pranto,
Mas que me deixe em paz! Ah tu não imaginas
Quanto isto me faz mal! Peor que as sabbatinas
Dos _ursos_ na aula, peor que beatas correrias

LYRA XXXII.

N'uma noite socegado
Velhos papeis revolvia,
E por ver de que tratavão
Hum por hum a todos lia.

  Erão copias emendadas
De quantos versos melhores
Eu compuz na tenra idade
A meus diversos amores.

  Aqui leio justas queixas
Contra a ventura formadas,
Leio excessos mal acceitos,
Doces promessas quebradas.

  Vendo sem razões tamanhas
Eu exclamo transportado:
_Que finezas tão mal feitas!
Que tempo tão mal passado_!

*Cavatina*

(Palavras ditas entre bastidores a uma corista)

      Tenho ideias com-_fusas_ e geladas
      Sobre a _escala_ do amor onde resplende
      _Lá_ n'esse vivo _sol_, que mais se accende
      _Rallentando_ as promessas calculadas.

      A _gamma_ dos suspiros não attende,
      É de mau _tom_ possuir lindas manadas
      D'amantes, que se _afinam_ nas ciladas
      Das _pausas_, que o desejo não entende.

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