Natureza

Nas asas do silêncio

Nas asas do silêncio
 
E quando penso 
que nada passa
assim me expresso
porque a vida se apressa
e tudo resta tal como tudo... o vento levou 
tudo,
tudo que se desembaraça da vida
qual argamassa impressa
na semelhança das manhãs 
que sorriem descalças
entre a noite e o dia
agora disfarçados
sem enganos esboçados numa promessa
ou palavras de amor repensadas

Eflúvio do Esqueleto

O esqueleto acabado
Que agora está em paz
Numa dor cortante
Com uma cor vibrante
Abria muito a boca 
E explanava a toca.
Mentia como um alguém
Que não temia nada
De ninguém. 
O esqueleto estrompado
Que havia sido enterrado
Esquecido, usado e pisado
Não tinha mais um eflúvio.
 
(Nada mais dele era emanado...)
 
25 . 11 . 2014
 

O Universo Recompensa E Despensa.

O universo recompensa 
E despensa
Um herói de cada vez;
Um dia de cada mês...
Um mês sofrido na miséria.
Um mês tirado pra férias.
 
O universo, sim,
O universo recompensa
Os heróis de cada tempo.
A mensagem do poeta
Pra cada geração
Não pode ser em vão.
O universo recompensa a impaciência 
Paciente
De todos que pediram perdão!...
 

A Borboleta

A borboleta
 
Ao fim de muitos dias
assim passados
no casulo intemporal
onde tecemos o ninho da borboleta
lá saimos completando o segredo
tantas vezes reprimido
outras tanto realçado 
nas asas do vento que leva
mais um pouco de nós mesmos
perfumando até o tempo dissuasor
com o perfume de cada semente
que choraminga de flor em flor
desprendida poisando
entre mágoas fiéis

Este Alentejo

tão longe o horizonte do sonhador
pequeno pedaço de tela ao abandono
torrando na pele braseiro ao calor
o cheiro do alecrim na terra sem dono

Pátria mãe colo da nossa alma
terra nua que teima em ser bela
sulcos no rosto rugas que à calma
secam  o suor de quem a trabalha

Ventos do sul reforçam o orgulho
manifesto puro do ser humano
deste chão imenso ser seu filho
 honrar quem nasce alentejano!

Cativeiro

Cativeiro
 
De que alimento eu
minha alma,
perdida e sem
mais saber voar
sem voz na oração ousar
 
perco-me em sussurros 
à deriva do teu esboço
esguio esbelto
sempre em alvoroço
sem ter nem ser mais eu
porque me perco
em tua esquina sem remorso
 
a luz perdeu-se agora
tão fria, tão minha
tão sozinha minha amiga
como está carente

Das Dunas Eu Posso Ver O Mar.

De cima das dunas 
Eu posso ver o mar...
As ondas azuis 
Dançando sem parar... 
Caminho na vasta estrada de areia a me alongar
Com os pensamentos agitando 
O espaço do meu altar.
 
Oh, vibe boa!
Consome o que há de mal em mim...
 
Oh, vibe boa!
Me afasta do abismo cruel do fim.
 
15 . 10 . 2014

Minhas Andanças

Eu já tive tantos momentos
Com amigos que já se foram.
Pichei alguns muros...
Pulei alguns condomínios
Passei por alguns tormentos,
Dei muitas risadas boas.
Fui sair pra protestar
Mas vi muita gente atoa
Era cedo demais para qualquer coisa
Era tarde demais para voltar atrás!...
Lembro daquela noite chuvosa
Da tinta preta no colégião... 
O celular servia de rádio
E a rádio espantava a solidão!...
 

Quarto minguante

Quarto minguante
 
Sei afinal 
porque sonhava
representando esta
febril eternidade a cada momento...
nada é mais
que um afecto desmedido
profundamente a ti convertido
sem mais lamentos
que a dor já esmiuçou
porque hoje não sou mais minguante
rasgando teu relevo no tempo
de quarto em quarto
perdido na rosa dos ventos
deixei somente de ser lua
que a nua palavra minha testemunha

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