Prosa Poética

A Despedida

 
‘’Meus olhos se fecharão como todos os olhos.

Cruzem-me as mãos.
Quero posar para a morte.
Mas não vos direi “mais luz”
Nem haverá êxtases, eu vos juro.
A paisagem infiel, lenta, confusa,
Será a cinza sem cor, sem cor.
Apenas a cinza sem cor.
Mas antes que venha o silêncio,
Trazei-me o intérprete.
Porque há o nada e o sempre.
Mas trazei-me o intérprete
Antes que venha o silêncio,
E antes que eu vá, como irei,
Sem vos contar o fim.’’ (Antônio P. de Medeiros)

Iblis

Não me rebaixo a vós, sou a queda em ideia, não me curvo em tua opressão. Desobediência me goza nos pecados eternos. Não se enfureça contra teu filho, oh! Pai. Nosso jardim é magnificente: o cheiro doce das pétalas que fraga nossos pulmões, a gota d’água que desliza na bela árvore-da-vida. A firme terra que nos sustenta com a graça da natureza, carregando o peso de aguentar todas as formidáveis criaturas.

De viés para a solidão

Em diagonal e quase de viés o tempo confina um
Oblíquo silêncio imaturo, desenfreado e tão inseguro
A luz ofuscada desata os nós a um breu fiel e maduro
 
De viés todos os segundos dominam uma hora prenhe e lasciva
Olhem como se esconde aquela escuridão intima e possessiva

Extra-sensorial

Um silêncio extra sensorial flui nas pétalas do tempo marginal
Qual flâmula luzidia flameja casual, acidental…tão crucial
Já amadurecida a solidão plagia um intenso sussurro quase fatal
 
Este silêncio extra sensorial ausenta-se num lamento tão factual
Nutre a derme de minh’alma derramada num harmónico desejo viral

Desânimo da natureza

O anseio das inquietações mundanas me enferme. É maldito o tornado de premissas, onde assopra as conclusões nevrálgicas do pensamento. Farfalha em nuances consideráveis, na violação das raízes da verdade. Do que adianta as escondidas mediações em meus frutos joviais, se o devaneio trágico, como praga, desola meu lavradio? Natureza-morta será a unanimidade do campo caso a ação não atue. Não deixarei os galhos quebrarem, garanto que não, mas acho tão enfadonho regar; os humanos como são, dissaboreia a apatia, feito gafanhotos que esporadicamente somem, mas retornam.

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