Prosa Poética

A penúria de um drogado

Um dia as artérias irão soterrar pela decadência suja. As agulhas enferrujadas não injetarão misericórdia. Os zumbis cairão em pedaços inúteis e uma pomba branca voará o céu. Uma ode a Notus, o filho bastardo da família desprezível, aquele fleumático disperso tangente a sua realidade. O homem sem objetivo, sem rumo e decência nas normas da vida. Pensou tanto no que fazer, nada fez. Lamentou tanto no que poderia errar, errou mortalmente.

Escuridão intimidante

Nesta escuridão intimidante cada breu jaz acabrunhado e excitante
Pernoita no algeroz dos mais infinitos e apaziguantes ecos pujantes
Envolve-se num ritual de palavras ardendo no crematório dos desejos asfixiantes
 
Nesta escuridão intimidante as sombras deambulam pelo parapeito das tristezas urgentes

Onde mora o tempo?

O tempo mora algemado a sedentos segundos inadiáveis
Entranha-se no futuro devagarinho…assim extraditável
Dura o intervalo de uma ininterrupta solidão tão inabalável
 
O tempo reside nas ruas e avenidas deste mundo instável
Confunde-se e transfunde-se no meio de um silêncio indomável

Vampiras órfãs pelo destino

Irmã da eternidade catastrófica, homicidas os irmãos de vosso sangue. Usas a malévola dissimulação para sugar as diretrizes da ordem moral, como um draconiano soldado em eras sombrias. Impressiono-me com tua trama de arrastar os homens ao centro da luxúria; agarras a indolência como se olho de tornado ventasse. Feito quadro expressionista, bebes de todo viço verrinoso, e vomitas na tela a verdade.

Para além do silêncio...

Para além do silêncio…resta um hora raquítica e solitária
O esbanjar de uma palavra mirrada, enferma e tão precária
O intimo apascentar de uma caricia carente, voraz e necessária
 
Para além do silêncio…resta uma devoradora escuridão mendigada
Resta medir cada centímetro deste silêncio divagante e emancipado

Luz na escuridão

Uma luz nesta escuridão flutua imarcescível e glorificada
Imprevisível a solidão esconde-me incompreendida e esfarrapada
Em rodapé fica uma palavra carente, amblíope e homogeneizada
 
Qualquer luz na escuridão contorce-se no meio de breus alucinados
Qualquer lamento sussurra entre silêncios quânticos e tresloucados

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