Prosa Poética

Latidos na noite

Numa poça da noite liquefaz-se um ruído mágico e atrevido
Esgueira-se de esguelha pelas frestas do silêncio mais esquivo
Em cada leda palavra satura-se a luz prenhe de breus tão impulsivos
 
De ruídos e latidos grunhe a solidão exposta ao espantalho do luar compulsivo
Ateia o fogo a estes versos perfumados com afagos insuflados num uivo contido
Simula um atalho escoando num lamento tão ensurdecedoramente expressivo
 

Dias extintos

 
Extinguiu-se o dia empoleirado na haste dos
Silêncios mais macabros, mais voláteis e melancólicos
Ali dormita a escuridão romântica embeiçada por um eco eólico
 
No epitáfio do tempo escrevi a pronúncia de um murmúrio parabólico
À esquadria desenhei os recantos dos céus escurecidos por este poente sistólico
Debruei o horizonte que elástico se estendeu no varandim de cada segundo bucólico
 
FC

Pensamentos e desassossegos

Parcos e minguantes pensamentos deambulam pelas
Caleiras desta solidão tão imperceptível…quase indescritível
Sibilam no mais aviltante eco tão tenuíssimo, sempre irredutível
 
Sem querer um anódino silêncio repercute esta paz tão imarcescível
É despiciendo dizer o quanto me dá dó ver fenecer mais um dia irrepetível
Porque afinal aprouve o tempo alimentar aquela equânime hora incorruptível
 
Rígida e acaturrada, a manhã desvela-se tão nobremente felina e impermeável

PORTAL DO TEMPO

Recostei-me ao portal do tempo, musicando todas as
Curta-metragens que ali fluiam numa sequência de horas
Sedentas de uma projeção tão incomensuravelmente tridimensional
 
Nos céus um silêncio quase apocalíptico amara numa nuvem tão indigente
Desaba depois qual aguaceiro sobre a derme das palavras mais convergentes
Soa dentro da alma como um adstringente murmúrio tão catalítico…tão urgente
 
Dos olhos tristes saem secreções de uma lágrima perene, aromática e pungente

Roteiro

Meu erro é ser valente demais.

Querer ser o herói do mundo.

Busco por equilíbrio.

Mas vivo em delírio profundo.

 

Minha mente é um turbilhão,

Penso além de mim.

Me vejo o protagonista,

Mas... sou apenas o figurante

 

Desse roteiro que se chama vida.

Mas não menos importante.

Olhar amblíope

Com seu olhar amblíope o tempo distrai-se no hemisfério
Das escuridões, mais circunflexas, quase , quase desconexas
Adorna a íris da noite esquecida entre os cílios da solidão convexa
 
No centro das dioptrias simétricas, elípticas e tão excêntricas esvai-se
O Tempo pífio ignobilmente travestido com mil lacaios segundos estultos
Nos céus escuto um irrisório lamento súcio escorrer pela face dos silêncios ocultos
 
FC

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