Prosa Poética

andanças suburbanas

ANDANÇAS SUBURBANAS
Luiz Silva
(...)
Sessenta e nove chegou,
Nos mudamos novamente,
Para o bairro Bela vista
(Guardo tudo aqui na mente),
A casa na Humberto Monte,
Érico Mota de frente.
(...)
Foi numa noite de julho
Que Papai nos avisou:
"Vou à casa de um amigo
Ver o que se anunciou -
O homem vai chegar à Lua!"
Papai foi, não me levou!
 
Na época estava no auge

um quarto de tempo

Um quarto de tempo
 
Uma porta de madeira maciça flutua entre meu quarto e a cidade 
Sobre o vão vejo a ponte, ponte que divide meu quarto e a cidade 
Quatro grandes dobradiças de bronze move a porta 
Uma faz som de dor outra de amor as outra duas se dobram apenas
Prefiro fechá-la e fugir do tumulto desta cidade furtiva 
A porta me trava como um cofre, mesmo assim esculto um som distante de um carro que corre alucinado seu som varre quilômetros 

o mar no feriado

O mar no feriado
 
O Mar grande democrático é compartilhado por pessoas e peixes
Não nos deixa sem panorama, muito espaço para lançar o olhar
Essa linha do horizonte me chama, parece teste de visão 
sol e mar e meus olhos salgados em vermelhos vinhos e lagar 
 
As pessoas correm seminuas aproveitando o tempo do feriado 
correm e brincam, essa sensação que as águas são minhas
e que nunca vão secar perpetua a vida.
 

No pasto dos meus silêncios

No pasto dos meus silêncios renasce o dia frondoso e emancipado
No alfobre das palavras guardo cada centímetro de um sussurro enamorado
Em todos os vácuos do tempo meço a distância entre cada vazio aromatizado
 
No pasto dos silêncios alimenta-se a diabrura contida numa rima reconciliada

Tudo passa...até o tempo!

Tudo passa…até o tempo por uma fresta de solidões inesgotáveis
Quando entardece dentro da alma o silêncio fenece absurdamente degradável
Assim se dessdenta a alma ao lavar-se no odre de cada prece lastimável
 
Tudo passa…até o tempo esquartejado por trilhões de segundos deploráveis
Palavras ardentes são a sequela das desilusões amarguradas e recicláveis
Desagua dos céus um aguaceiro de ecos atónitos e inconsoláveis
 

Clima frio

O clima de chuva apazígua a tristeza. Ironicamente, já que o céu cinzento transborda melancolia. A frieza da tarde apetece-me a poesia. Sinto as várzeas da rotina exaurindo nos galhos molhados e nas folhagens quebradas. Rasgo um verso e outro, reciclo no coração a sensação mais afável. Todo o lixo vai a um lugar; chamo-o de poema.

Busto da solidão

À esquadria de qualquer lamento grita cada hora
Mais prenhe mais vegetativa, inquietante e tão apelativa
Um segundo reptiliano ziguezagueia entre palavras adversativas
 
No busto da solidão está solidificado um eco quase pejorativo
Penosa a luz sucumbe entre tantos breus carentes e esquivos

Toquei na alma

Toquei na alma e pressenti na derme dos silêncios
O tinir e vibrar de uma fluorescência tão desodorizante
Ali um eco periódico esboroa-se felino, volátil e sussurrante
 
Toquei na alma e reconheci nas palavras a doce licorosidade
Que apascenta o pleno esvoaçar do tempo alucinante, tão sibilante

Pages