Soneto

ANJO DE RESGATE

Em um dia iluminado, eu te vi chegar
Acendi um sorriso em doce adoração
Adivinhei que virias para me resgatar
Algo indescritível agitou meu coração

Eu tive a impressão que já te conhecia
Então, começava a viver intensamente
Quando pensei que nada de amor sabia
Quiseste-me envolver completamente...

Caminhei por sobre nuvens de algodão
E andei sobre as águas do azul do mar
Uni as minhas mãos às tuas em oração

Soneto de um jovem triste

 

Soneto de um jovem triste

 

Andava na rua tristemente

Pensava em um amor perdido em fim

Por uma quimera fiquei assim

Com o pensamento pouco ausente.

 

Dor que enleava minha mente

Foi a mesma que brotou em meu jardim

Por pouco quase me perdi de mim

Vivo cá no meu mundo pungente.

 

Que pena de mim sem querer sofrer

Indo atrás da alegria sofri

Hoje sinto falta do meu querer.

 

Lembro-me de tudo que eu vivi

Ao teu lado sempre sonhei em ter

Cantiga de passarinho

Cantiga de passarinho

Toda tarde a passarada se agita a cantarolar

É quando ela passa pra aquela estrada enfeitar

Canta pintasilva, canta rouxinou e canta uirapuru

Nada perturba a passarada que vem ver ela passar

A admiram tanto que seu caminhar vêm sonorizar

Cada um na sua cantiga pra sua tarde sonorizar

Era tanta canção passarinheira só pra ela escutar

Fazendo daquelas tardes sonoras pro seu coração apaixonar

 

Charles Silva

Adeus

 

Faço o meu silêncio de sua ausência

E me calo perante sua distância

Pois, dos sonhos retirei a lembrança

Do amor que quase me pôs à falência.

 

Do sentimento tão lindo, a crença

Da eternidade e a má-aventurança

Do crédito na falsa aparência

Que, da solidez, perdeu a segurança.

 

Do infinito, resta só a saudade,

(Suas palavras ofuscaram o brilho

Da fantasia que era a nossa verdade).

 

Só os cacos de um coração andarilho

Doído, triste, errante e sem auxílio

Soneto da Modernidade

 

O mundo gira, a vida passa e a gente anda

Gira, anda, passa porque nada é eterno

Se hoje uma flor caiu porque é inverno

Amanhã, na primavera, volta a uma ciranda.

 

Em cada passo dado, uma canção que se canta

Em cada canção nasce um novo ser interno

Que, se exposto com todo o grande amor paterno

Se recicla e retorna de forma mais branda

 

Em cada tempo e cada era uma história

Feia ou bonita, só expressa a verdade

Que se repete sempre nessa trajetória

 

BAILARINA

Sobre ela vai repoisar a gentil lampejo,
Quando seus pés delgados desenhar a dança.
Sua cadência elástica encanta a criança,
Que na caixinha a expia com igual desejo.

Um sonido afável seus impulsos conduz,
Sua face purpúrea expressões vai moldando...
Rastejando no chão ou no ar quase voando,
Como vertem fulgor seus dous olhos azuis.

Seus passos onde a harmonia lança rebentos,
Deslumbram mesmo o espelho que lhe assiste mudo,
E deslizam tranqüilos no dorso dos ventos!

Soneto Esquizóide

Desperta a primaveril nostalgia,
Após longos e chorosos dias
De densa, tão cinzenta invernia
De fazer finar em noites frias.

Brilha-me o sol nos olhos, agora.
Momentaneamente esqueço as vis horas
Em que o meu ser sempre se demora
E tarda a sair, sem vislumbrar melhoras.

Oh bipolaridade nefasta que me corrompes!
Que a mim me trancas em negros pensamentos
E só por vezes levas à rua beber das fontes!

Livro

A vida me pôs nas mãos um lindo e delicado livro. Lhe faço

Um carinho. Deslizo minhas mãos maciamente por seu dorso

Malicioso, preparo-me para fazer uma viagem, um lindo corso

Por cada página, cada palavra sua, por cada linha, cada traço.

 

Lúdica e ansiosamente, confesso, abro-o. E o que mais espero

É que cada uma e todas as palavras de suas alvíssimas folhas

Tragam contidas dentro de si – quais coloridas lindas bolhas

As mensagens de paz e de amor que tanto desejo, tanto quero.

 

Impossível

Nasceu assim. De repente. Nem sei quando

Se foi quando você falou, ou apenas sorriu

E repentinamente toda minha segurança ruiu

E eu me vi como estou agora, só lhe amando.

 

E agora, todo dia me vejo assim, impaciente

Prá lhe ver, sentir seu cheiro, ouvir sua voz

Prá guardar você na memória e depois, a sós

Medicar essa paixão, me sentir menos doente.

 

Mas (existe sempre um mas) depois eu penso:

Para viver essa paixão, ignoro todo bom senso

Ou continuo amargando essa solidão terrível?

 

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