Soneto

Ponto G

Sabe o que eu queria mesmo? Seu corpo mapeado

Para que todos os caminhos que eu nele seguisse

Levassem você a sentir tudo, tudo que eu sentisse

Por muito mais de um milhão de vezes multiplicado.

 

Sabe o que eu queria mesmo? Encontrar o ponto

Exato para o toque do prazer máximo, da loucura

Mas são tantos os pontos seus que, nesta procura

Você me põe primeiro exangue, perdido e tonto.

 

Por isso, lhe falo baixinho obscenidades ao ouvido

Ou mordisco seus lábios, ou beijo seu peito túrgido

Esqueletos de Sonhos

Sonhos? Eu sonho. Tu sonhas. Mas, de que serão feitos

Os sonhos? Será de alguma vontade inda não realizada?

De alguma ânsia que se queda frágil, não materializada

Fazendo de corações e almas pares tristes, insatisfeitos?

 

Ah, os sonhos. Elocubrações que a mente humana gera

E que, pari passu, seguem lado a lado com a nossa vida

E quando não realizados, são como uma dolorosa ferida

Que torna a nossa vida tão inócua, tão insalubre,tão mera.

 

Apesar de não existirem, de cinza, ficam por aí os sonhos

Mandinga

Oxossì, Obalúaye, Òsúmàré, Ogum e Iansã

Me respondam, por favor, urgentemente:

De onde vem isso que já me faz dormente

Como quem está refém de uma febre tersã?

 

Dei agora para ouvir atabaques e tambores

Mesmo quando eu e minha’lma estamos sós

E nesta nativa sinfonia há o grave de uma voz

Cantando a força de mil esquecidos amores.

 

E agora deuses, o que faço: abro minhas velas

E viajo nas tintas da paixão destas aquarelas

Águas

Lembro que, maliciosamente, brinquei com teus pelos

E percorri com a ponta dos meus dedos tão maliciosos

Cada curva de cada pequeno seio teu – dons preciosos

Túrgidas e belas testemunhas da fome dos teus apelos.

 

Comi tua nudez. Amei cada um dos teus belos detalhes

E me adonei gostosamente de todas as tuas lindas vias.

Te vi chovendo. Borrasca de paixão, tu toda escorrias,

E qual rara peça esculpida, me expunhas teus entalhes.

 

E na tua boca sequiosa – desejo – eu me fiz teu alimento

Agonia

Agonia

Faz tão pouco, mas tão pouco tempo que nos separamos

Que ainda sinto nas mãos o cheiro do prazer que te dei

Que ainda tenho na retina todos os detalhes que gravei

Deste teu corpo lindo que vi, desde que nos amamos.

 

Foi ainda há pouco. Tanto que ainda trago na boca o sal

Que bebi de cada gota de suor que perolava em teu rosto

E sinto ainda um certo gosto que não conhecia – o gosto

Do vinho do amor apanhado da mais fina taça de cristal.

 

E tem sido assim o tempo pra mim: às vezes feliz demais

Acontece

Acontece

Olha, vê se me esquece. Tire da sua pele a lembrança

Do meu suor. E tente esquecer cada apaixonado grito

Que amando, me destes. E esqueça seu querer aflito

De me dar prazer bem antes do seu, em nossa dança.

 

Olha, vê se me esquece. Você tem que tirar da retina

A Um Mestre Sala Morto

A um Mestre-Sala Morto

 

A avenida agora está enormemente vazia e silenciosa

Refletores apagados. No chão, apenas alguns confetes

Olham silenciosas almas de pierrots, arlequins,valetes

E a descolorida bandeira que ontem tremulava graciosa.

 

O samba-enredo revelou-se pobre, perdeu a harmonia

De tanto, conseguiu fazer dolentemente calado o surdo

E o reco-reco, o tamborim e a cuíca – um naipe mudo

De há muito que estão sós e nus – perderam a fantasia.

 

AMANTES

Amantes

Ainda se podiam ouvir no ar as músicas natalinas. Lembro

Do vermelho vivo, botas e pom-pons dos bons papais-nóeis

E dos lindos presentes que te dei e recebi, coloridos papéis

Nosso Natal. Lembro muito bem – vinte e sete de dezembro.

 

Outra data linda – foi da obra prima da paixão um rascunho

Imortalizado na rosa, no beijo, no abraço, no fogo da cama

Nossa pele, nosso hálito, nosso prazer, nossa infinda chama

No nosso Dia dos Namorados – apenas só nosso 15 de junho.

 

Sobre mim

Não sou verso de poeta
Nem flor de jasmim
Sou singela violeta
Que de sede morre no jardim.

Não sou dona de mim
Nem de um ramo de rosas
Sou o livro de mágoas sem fim
Escrito nas noites nebulosas.

Não sou do rio a ponte
Nem a água que da nascente brota
Fresca, ingénua e transparente!

Sou o vento eloquente
Que não reconhece derrota
Nas mãos de um idiota!

PUDERA EU SER

Pudera eu ser mar, poderoso e forte

Que nada teme, na sua vastidão imensa!

Pudera eu ser pedra que não ri nem pensa

Pudera eu ser vento, ser o vento norte!

 

Pudera eu ser trovão, com o seu poderio

Ser luz, ser sol, que ilumina a alma!

Uma alta montanha, um imenso rio

Trazer no seu leito, o amor, a calma…

 

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