Letras estremecidas
Autor: Mauro Antonio E... on Sunday, 31 March 2013
Meu coração é um porto abandonado
Que os barcos passam, mas não param nunca;
E buscam, juntos, um novo traçado
Que longe esteja da maré adunca.
O teu amor é um barco sem destino
Que não atraca nunca no meu cais;
E passa longe do meu porto pequenino:
Segue perdido e não volta mais.
O meu olhar longínquo, na esperança
Do teu amor que passa lentamente,
E não atraca no meu coração;
É o cais vazio ao teu barco que encerra
No ancoradouro do meu porto de repente
Uma saudade e uma solidão.
Se dizias que me amavas
Então dizes por que deixou
No meu coração as maiores cavas
De um amar que nunca me amou!
Nunca brinques com o coração d'um apaixonado
Pois este é frágil, preso e inocente
E por mais que da paixão carregue o fardo
Não merece sofrer desse calor latente...
E agora, te vejo obscura
Como um cadáver jogado à morte
Como a alegria que a vida me roubou
Percebo que o amor não procura
O ser com a melhor sorte
Para adoentá-lo com a praga do amor!
Tudo o que vejo, ouço e sinto
Seria de fato realidade?
Ou seria só a perversidade
D'um audacioso labirinto?
Seria tudo isso um fantasioso sonho?
Onde a angústia, meu medo medonho
Estraçalha o palpitar despalpitado
De meu pobre coração angustiado?
Então que depressa eu acorde
Para que não mais me recorde
Deste sonho repleto de medo
Recuso o sono que o tempo me trouxe
Pois se um sonho a minha vida fosse
Não seria sonho, e sim pesadelo.
Ó meu amigo Mar, meu companheiro
De infancia! dos meus tempos de collegio,
Quando p'ra vir nadar como um poveiro
Eu gazeava á lição do mestre-regio!
Recordas-te de mim, do Anto trigueiro?
(O contrario seria um sacrilegio)
Lembras-te ainda d'esse marinheiro
De boina e de cachimbo? Ó mar protege-o!
Que tua mão oceanica me ajude,
Leva-me sempre pelo bom caminho,
Não me faltes nas horas de afflicção.
Desperta-se o silêncio da noite quebrada
Com tempestades, heróicas, heranças, saudades…
Ai, que de mim, cai folha abandonada,
Sob a fúnebre pedra, fria, da calçada…
Tu, que pertences aos beijos da madrugada;
Na magia adocicada, que o acordar entende…