Soneto

Janota Nudez

Devolva-me o singular da tua janota nudez
As estrelas e a lua cheia entre teus pés
As mesmas pertencem-me mês após mês
E tudo mais que escondes na tua timidez

Devolva, que não a perco desta vez !
Desfaleceu do flácido o corpo que vês
O sagrado fruto dos teus segredos o dês
Tartamudea, mas não diga talvez

Viajam as mãos dos meus olhos
Nos teus peitos que vencem cones
Co'pontiagudo dos teus mamilos

Desta ímpar nudez faça meus agasalhos
E deles milhões de pares clones
Para apenas eu senti-los e tê-los

ALVORECER

Sonolenta surge a claridade da manhã ditosa
Suave, delicada, colorida, pródiga e dadivosa
Sedente e esquiva é glamorosa e pura gazela
Traz os cabelos soltos ao vento, a bela donzela

Sonha com aquele que a admire e a corteje
Delicada menina-moça, tão linda e sorridente
E quer alguém que a leve pela mão e a deseje
Que a pressinta e cative com olhar envolvente

Parecia presa a um cordão tênue enluarado
Estava ainda envolta pela noite e trazia o dia
Libertando das trevas um espírito encantado

Sou África

Eis-me aqui !
Rico e ingênuo
Belo e sereno
Sou todo daqui...

Sou daquela ventre aí...
Sempre contínuo
Como no matador o bovino
Sou mesmo dalí...

Sou África !
Cada centímetro
Do seu corpo vituperiado

A pele e o sangue violado
Para impurezas o filtro
Sou África !

António Vicente Aposiopese

Estações Do Meu Coração

Caem as pétalas e florecem,
Na manhã que chove o verão,
Despede-se a despida ilusão.
Arilhos no inverno crescem...

Os teus beijos no outono caem,
E apanho co's olhos da paixão,
E co's mesmos faço devolução.
Na primavera rejuvenescem...

E vivo eu nestas constantes
Estações do meu coração
Que ora quente, ora frias

Ora doce, ora desilusão,
Igual ao que tanto querias;
Tens-me nas tuas mãos
lecitantes !...

OÁSIS

Serias o meu oásis em meio ao deserto
Serias o descanso do andarilho solitário
Serias meu último porto seguro e certo
Serias o mor secreto em meu imaginário

Peregrinando vou em meio à tempestade
Na solidão, diviso duas auras luminosas
Avisto a alegoria do amor e da saudade
É um lago muito azul de ondas sinuosas

E corro no afã de conseguir te alcançar
Nas águas fluentes e claras como o dia
Ali me lanço na ânsia de me refrescar

EM TUA DIREÇÃO

Não preciso mais ocultar-me de ti
Posso conduzir-te pelo intenso azul
Com minha claridade iluminar-te-ei
Vem em direção do Cruzeiro do Sul

Sou aquela estrela azulada e luziria
E em sonho, hás de vir até mim
Pois estou presa em eras infinitas
Esperando o astronauta que viria

Se me libertares criaremos laços
E entraremos em suave sintonia
E um dia viajaremos pelo espaço

E deixarás de ser poeta um errante
Juntando nossas asas podemos voar
Serei tua estrela e tu, meu diamante

(Lourdes Ramos)

E se eu te ?...

E se eu te desse,
Prazer e aventura;
Amor e loucura,
E diferente fosse ?...

Se contigo fizesse,
Sexo sem tortura;
Feito de forma pura,
E nada de ti quisesse ?...

Seu teu coração, eu o roubasse,
E sem quaisquer vergonha,
Hibernasse no teu corpo ?

Se fôssemos livre como cegonha,
E eu ter vidas como o Policarpo,
Aceitarias se te pedisse que me amasse ?

Autor: António Vicente Aposiopese

Indeléveis momentos

Indeléveis momentos

Naufrague nos meus peitos,
Tartamudeia o teu olhar,
Na concuscência do teu beijar;
Dar-te-ei indeléveis momentos

Beba dos meus lábios o adejar,
Transpire os teus sentimentos,
Nestes meus poros sedentos;
Te perca em mim sem te achar...

Sinta meus dedos viajar
Nos teus segredos nus
Que por muito venho farejar

Morra de querer-me como Vênus,
Entregue o teu sexo e venha ondejar;
Cada instante co'lótus, compus...

António Vicente Aposiopese

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