Sopro de vida

Hoje sonhei-te meu

Depois do dia louco de confusão urbana

Aí onde tu estavas aconteceu o abraço,    

onde coubemos os dois e as nossas almas leves como penas

leves como pequenas gotas de orvalho que se formam em pétalas de flores raras

Depois aventurei-me a sentir-me em ti

Senti-te na imprevisibilidade da vida,

Pedaços de mim

Na constância das horas esqueço me do que sou e viro páginas da vida.

Assim que chego ao final a última página rasga-se em mil pedaços,

que cobrem a superfície da terra com o que de mim contêm e toda a terra fica a saber de ti...

O teu ser é inundado por esses pedaços de mim, que te elevam até ao firmamento.

Razão de ser de uma vida

A chuva cai, uma trompete ecoa nas paredes num swing morno e macio que apetece ouvir em loop. Nada mais interessa nesse momento do que a música que provoca uma evasão para momentos de outros tempos, de tempos imemoriais, onde tudo aconteceu. Uma taça de vinho, o calor de uma lareira, a lenha a crepitar e o teu olhar sedutoramente penetrante. Nada mais importa do que isso. Encontrar o teu perfil esculpido nas rochas prateadas é somente o maior dos prazeres que está contido na razão de ser de uma vida.

Momentos de prazer

Nos momentos de prazer sinto-me, como uma criança que acaba de nascer, aproveito o tempo para me tentar reescrever nas horas vagas do dia. Não lamento ser quem não sou, não aviso ninguém daquilo que sou, apenas floresço com a luz ténue do dia. Num clique a vida faz-se, hoje, amanhã, ontem, agora. O agora é sempre, nos momentos de vida breve. Mantenho uma relação saudável comigo mesmo, tenho saudades daquilo que sou, nos momentos em que não sou o que quero.

Tear da vida

No tear da vida tecem-se ideias, razões e motivos para amar

Num singelo gesto tecem-se linhas de cores e vida que se quer contínua

olho para os teus olhos e eis que o seu brilho desperta em mim a vida

singelas partículas quânticas enlouquecem de amor infinitesimal

dentro é fora, fora é dentro

nos portais de fogo, torrentes de lava são expelidas

Murmúrios

nos murmúrios das estrelas está contido o amor

no novelo dos dias que vamos enrolando cuidadosamente

há uma atração fatal que se desenha

o fim do princípio

o meio de vários fins

há grandes encontros nas explosões de cor

o novelo enrola-se e não tem fim, a vida vai-se tecendo,

o que parecem pequenos bocados de fio, incoerência aparente

Olhar

Subo as escadas de um tempo que não chora, apenas é. Um ponto no horizonte reflete a luz de um caminho percorrido. Há gestos que permanecem na memória daquilo que é apenas sonho. Fecho os olhos por instantes e sonho que sonho, vibro no azul do céu e do mar, a natureza e o ser, simbiose perfeita, enrolada nas ondas do pensamento que se fixa no olhar que não é, no olhar que vem de dentro, na suavidade das nuvens de algodão, cujo branco contrasta com o dourado do sol. Assim é, assim foi e assim será.

Irrealismos

É no irreal que se sente o que não está, na invisibilidade, a alma é livre, a cristalização da natureza morta coloca o infinito nas asas do desejo, vôo que vôo, sinto que sinto, milhões de partículas quânticas levam o pensamento para longe, lá onde não se vê para contar, mas a liberdade, essa, nunca desaparece.

No sorriso

No sorriso, a leveza eleva-se, é o espírito que tenta emanar e dar luz ao mundo.

É na elegância que o belo se manifesta, na cor que aquece a alma. Um único movimento cria a ilusão do prazer de viver. Ser livre, é essa a manifestação do ser, não do ter, ser sempre feliz, sorrindo.  

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