Do amor

eis que do nada surgem as formas do teu corpo,

que são as formas do sagrado, do sacramental,

olho para o teu rosto e só vejo perfeição

deixas-me em completo êxtase e todos os meus sentidos ficam alerta

 
dentro de mim nas minhas veias corre sangue velozmente

de tal forma que o meu coração quase salta de mim

Viagens

em todos estes anos tinha-o procurado em todos os lugares, em silêncio

fizera viagens em solidão, nessa busca incessante de o ver outra vez

tinha desistido quando o seu coração lhe dissera que não era esse o seu caminho

mas ele apareceu, incrivelmente belo, e num instante o mundo estremeceu e parou

A invisibilidade do feliz

nas horas vagas percorro caminhos imensos onde o caminho é apenas isso, um caminho, as reflexões essas deixo-as para depois, para quando a memória e a vontade me deixarem materializá-las em palavras. enquanto percorro esses caminhos na minha secreta viagem, vou atendendo aos pormenores, aos pequenos detalhes do quotidiano, porque tudo é viagem, tudo é estar no ser. atenho-me em cada ponto do horizonte inacabado, e encontro o sacramental, o sagrado, o profano, a viragem do meu azimute.

Ilogismo

que é do fio condutor quando se parte, talvez matéria talvez arte...

profundamente se ligam os elementos mais sólidos que no universo existem, sobrevivem ao calor e ao frio, como se do nada viessem

as partículas de sol brilham no escuro, a lua brilha no claro

Fugir de mim

Nas promessas de vida breve encanto. encontro. quero fugir de mim e do pesadelo. lá está, já fui, já era, tu, magnífica catedral de luzes sem fim, brilhas tanto que dói olhar. é assim o sonho, é assim a primavera. estás a seguir-me? pergunto sem resposta. percebes o fio condutor? será que o há, ou será só a corda indefinida dos pensamentos ilógicos. dói saber do medo, mas sem medo não há vida. quero fugir mas não sei para onde. para o teu cheiro, murmuram-me as criaturas invisíveis. para o teu cheiro... tão doce que apetece mergulhar.

Da construção do ser

No espaço de tempo que passa entre dois segundos tanto se passa, é a relatividade do ser que faz vibrar as ondas do pensamento. No momento em que o olhar fita a estrela também as asas voam, o pássaro acorda. É irresistível esta vontade de partir sempre, sem destino algum. Como se a força motriz que move a cintura da terra viesse em nosso auxílio. É breve e perene o tempo, quando de tempo não se quer ouvir falar, o tempo essa invenção humana não quer saber das forças mortais e impele-nos para esse abismo mesmo sem nos aperceber-nos.

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