A DOR NÃO EXISTE

São as almas já perdidas, esquecidas
Sem lástima, sem ira escondidas no tempo
Lançam o olhar as longínquas paragens
Pobres tristes na dor nostálgica que vivem
Oh capitão do seu coração enterra-se nele

É no mágico deserto que esqueceu a flor
Porque chora a alma se ninguém responde
Pobre alma que lança em torno a sua vista
Sempre há de encontrar essa miséria já atroz
Alma que chora embora essa dor não exista.

 

PEDAÇO MEU

Dói-me cada pedaço do meu corpo
Dói-me a carne de tão podre que está
Dói-me a alma deste meu triste pranto
Dói-me o pensamento do meu amargo penar
Dói-me o sentimento da dor do momento
Dói-me a mente que me leva ao esquecimento
Dói-me o sangue que corre nas minhas veias
Dói-me o coração que bate sem descansar
Dói-me a terra que me cobrirá o corpo.

 

ACASOS

Os acasos da nossa vida
Foram inventados por Deus
Eles são anjos em movimento
Que cruzam o nosso caminho
Trazem alegrias, amor ou tristezas
Lições para nos fazer crescer
Os acasos não passam de planos
De Deus para nos indicar o caminho.

 

FOME DE TI

Os meus olhos
Já denunciam
Insinuam-se pela tua pele
Curiosa do teu gosto
Continuo a amar-te
Continuo a desejar
O meu corpo
Roga pelo teu
Na possibilidade
Do teu toque
Quer ser-te pele
Ser carne e sangue
Roubam-te o sossego
E em segredo, me consome
Este amor que sinto
Continuo a querer
A ser tua
Desta fome de ti
Pelo teu desejo
Assim vou continuar
Até que tu me vejas
Que somos só um
No teu olhar os sentidos
Voam livremente

SOLIDÃO

Solidão! Onde me escuto. Onde fujo.
Longe dela! Me perco. Me esqueço.
Nela me crio. Torno-a meu refugio!
O meu adereço! A minha sombra.
Me desagrego! Sou fim. O começo!
Só no tempo. Eu me desapego.
Me entrego! Em devaneios!
Sem apreço. Na mansidão.
Total da criação. Ou recomeço!
Na solidão! Em espinhos.
Na insatisfação! Porque mereço.
Ganhar. Ou perder! 
Na inspiração. Secreta no viver!

ROSTO

Desenhei o teu rosto
- Na fina areia
Branca da praia
- Perdi as horas
Minutos, segundos
- Para deixar deslizar
Os meus lábios
-Nos teus lentamente
A cair no teu gosto
-Queimar de abraços
Teus com os meus
-Descobrindo a timidez
De sermos só nós
-Dançamos ao som do
Teu corpo com o meu
-Enquanto as tuas mãos
Estão perdidas nas
-Montanhas vulcânicas
E planícies em chamas
-Desenhei o brilho quente
Do amor nos teus lábios
-Eu sou o teu sonho

FAMINTA FOME

Já não posso voltar
Mas também não quero
Já te pedi que não me olhasses assim
Fecho os olhos e sem espreitar
Sinto as tuas mandíbulas
Como um lobo faminto na minha carne
Enchendo-me os ouvidos de sonhos
E o meu corpo de amor
Na tua, na minha desejosa paixão
Para que o sol durma mais um pouco
E deixa os teus medos entre os meus seios
Rogando por mim, quando o pecado, me aflorar a pele
Banhando-me o corpo com carícias tuas
Ama-me loucamente, sem pensares no amanhã

AINDA SOU

Ainda sou eu que me olho
No espelho e vejo um reflexo
Nem sei mais se é meu, mas sei
Que não serei assim para sempre
Não temo contrastes muito menos
Mudanças ou suspiros magoados
Sei que ainda, sou eu que escrevo
Escrevo o que sinto, amanhã não sei
Farei com que o amor seja pintando em mil
Segredos delicados, coloridos de amor
Hoje sou talvez poesia, canto da cotovia
Que me veio acordar, cantando docemente
Mas amanhã poderei ser apenas uma névoa
De brandas iras, que dorme contigo, no teu

EM TI

Preciso de ti
Hoje e sempre
No presente
Que se enraíze
Na terra fecundada
Das palavras que guardo
Num abraço primaveril
Preciso de ti
Preciso de ti
Do tempo liberto
No olhar dos teus olhos
Pele macia de lobos
Vergada magia de gente
Desta esperança
Em gestos de alecrim
Alma em silêncio
Como parte de mim, em ti.
 

HORAS MORTAS

 Escrevi o teu nome na areia
    Do sangue que corre em mim

Se me abandono no tempo
   Se me nego ao sentimento
       
 Se evito as palavras lidas
        Se evito a sombra minha

Se escrevo nas linhas o sentir
  Se tropeço no que não quero
       
Se pontapeio para o lado
         Se caio na folhagem no outono

Se me escondo nos pingos da chuva
    Apenas encontro-te dentro da minha alma
         No bater forte do meu coração

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