Mágoa

A mágoa despreza a simpatia,
onde só há desgraça e rispidez,
o mundo do caos tornar-se-ia
o local onde os fracos não têm vez.

Ansiedade, dor e idolatria
resume toda a forte liquidez,
o homem então se cobriria
se adornado à voz da sensatez:

O amor já é inútil nessa via,
talvez pense que é estupidez,
e se nem isso você me confia
a mágoa não lhe será cortês.
  

Pedra

Um menino lança a pedra n’água,
donde quica mil vezes no rio,
cada batida rasga com o vento
a vida da pedra e su’alma.

O quique é um passar de hora,
longínqua hora e minutos,
tempo entendiando o menino,
mas que afunda a pedra agora.

A noite fria se aproxima,
e o rio escuro reflete a lua,
o garoto deixa a cena
e a pedra, não mais se via.

Não sou poeta

Queria saber fazer poesia.
Ter na cadência Camões,
ter n'alma Meireles,
romper laços como Andrade,
ou escutar suas lições…

Queria ser um poeta.
Uma alma de sonhos lindos,
a rebeldia revolucionária,
ser arquiteto da beleza,
Um Van Gogh dos versos líricos. 

Sou Zé Ninguém, sou José.
Mas eles não dizem ''e agora?'';
não me escutam ou leem,
sou um deficiente de espírito,
um protopoeta sem fé…

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