Fossem meus olhos...

Fossem meus olhos
 
bordados nos imensos céus
 
onde pairam os silêncios teus
 
e então trocaria de vez
 
o sentido impaciente com que descrevo
 
nossa entrega
 
sem indiferenças nem contemplações
 
à luz de plenas
 
recompensas e escravizantes ilusões
 
 
– Que me ornamentes as palavras
 

Essa luz...

Reflecte-me essa luz
 
que toda a manhã de ti
 
se desprende espantando
 
a noite
 
despindo o dia que celebramos
 
em estações frutíferas de amor
 
 
– Irrompe comigo
 
neste jazigo onde ressuscitámos
 
toda a poesia em nós viva
 
em secretas clausuras
 
de ternura e valentia
 
 

Ondas silenciosas

– Serão as ondas do mar
 
um espelho
 
que espelha a correnteza
 
da alma insegura
 
reflectida em oceanos de transparências
 
num tempo que alinho em cada
 
bruma amanhecida em ti
 
 
– Serão tempestades silenciadas
 
na mais fina textura dos meus versos
 
repletos de brisas embarcadas
 

EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA – I

EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA – I

Na poesia, quis abusar
das palavras agressivas,
aquelas que vão engrossar
o vocabulário dos protestos.
Escrevi de raiva, frases vivas,
ditadas, sopradas por figuras
anónimas, fãs dos manifestos e da confusão.
Li, e reli, rasgando as passagens ofensivas
e com elas fui engolindo agruras,
mastigadas no tempo em depuração.

EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA - II

EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA - II

Afastei o nevoeiro da razão que impele
que o meu grito abafe e saia assim
engolido em seco, sufocado na garganta
por cenas vividas, múltiplos repúdios
acantonados à flor da pele.
Metamorfoses aprisionadas em mim,
decantam em crescente «por a dor ser tanta»,
virtuais compassos de espera! Autênticos interlúdios
trabalhados, em árias de gemidos dedilhados,
por mãos brancas de músicos amortalhados.

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