haja um memorando onde possa inscrever os meus diminutos sucessos com esmero e ponderação; com uma eloquência que elucide as raízes calcinadas da minha afetividade; com uma perseverança que incentive a minha harmonia vigente.

Queria saber fazer poesia.
Ter na cadência Camões,
ter n'alma Meireles,
romper laços como Andrade,
ou escutar suas lições…

Queria ser um poeta.
Uma alma de sonhos lindos,
a rebeldia revolucionária,
ser arquiteto da beleza,
Um Van Gogh dos versos líricos. 

Sou Zé Ninguém, sou José.
Mas eles não dizem ''e agora?'';
não me escutam ou leem,
sou um deficiente de espírito,
um protopoeta sem fé…

às vezes

não são letras

são símbolos ilegíveis

às vezes

não são rasuras

são traços obscuros

às vezes

não são registros

são palimpsestos antigos

às vezes

não são pirâmides

são obeliscos erguidos

às vezes

não são madrugadas

são noites perdidas

lembro os meus amores frustrados e as minhas ligações proibidas; as querelas fúteis e os deveres que provinham de muitas exigências grotescas; recordo o labor dos energúmenos que incentivavam o meu sofrimento.

E nesta semana sobre cadáveres
escrevi, com os máximos detalhes
experimentei estar sobre os cárceres,
porém sozinho, pressinto seus males.

redijo missivas que trespassam os meus litígios prementes; que desarmam os requintados desfiles onde a impostura se transforma numa verdade consagrada; onde o declínio é varrido por uma grande intrepidez.

é o sol

que alarga as fronteiras visíveis

com a luz refletida

dos objetos exteriores

é o sol

da mesma matéria do cosmo

alternando seu brilho

com o sombreio das nuvens

é o sol

que divide a paisagem

em claros / escuros

com seus raios pródigos

é o sol

latifúndio enigmático

que percorre seu circuito

em calma navegação

até que -incólume- se vá

cedendo lugar

para a tenda noturna

Transfigurado: a face agora e sempre pálida
embranquece nossos olhos molhados,
defunto à beira do pó a torna esquálida
nos momentos diante de tais fatos.

A história da porta diferente
é um conto de terror muito antigo,
uma porta que se esguia num tiro
quando a bala esvanece nossa gente.
Ela se abre na maca dos enfermos
noticiando a abertura da morte,
trancando a carne vil que se contorce
sob as terras dos caixões mais ermos.