o fulvo regato da poesia
Autor: António Tê Santos on Friday, 19 May 2023exprimo intuições que acentuam o meu prazer em redigir; transfiro para a minha intimidade as conjeturas que sustento; solicito uma energia que me consinta interpretar os trilhos ácidos que percorri.
Casamento arranjado
Autor: Reirazinho on Friday, 19 May 2023Separamo-nos como joio e trigo.
Feito casaco a adornar todo o corpo,
vestindo das mãos aos pés, me intrigo:
grudados, mas a mim, tornou-se estorvo.
A aliança afirmando compromisso
é similar ao olho negro dum corvo:
fita a pele da caça, e seu inimigo
estará à mostra o coração e o torso.
O que tornamo-nos? Romeu e Julieta?
Um par de roedores, porco-espinho
mas sem espinho de porco ou de vespa.
o fulvo regato da poesia
Autor: António Tê Santos on Thursday, 18 May 2023a moagem do sofrimento conduz a uma catarse vigorosa que enriquece a poesia: ameniza os meus conflitos exacerbados; origina um paradigma de liberdade nos lugares onde enraízo a minha solidão.
Fofoca
Autor: Reirazinho on Wednesday, 17 May 2023Cadenciando meu ritmo
na música rigorosa,
eu tenho só dó das línguas
tocadas pela fofoca;
que num apalpar tão vil,
musicaliza entre dentes
suas cordas vocais sujas.
ANSEIO
Autor: FERNANDO ANTÔNI... on Tuesday, 16 May 2023
eu nunca ignorei os tropeços
que me ergueram do solo
eu nunca desejei uma glória
que não fosse conquistada
eu nunca cultuei ilusões
sem prévia reflexão
eu nunca lancei impropérios
contra minha própria sorte
eu nunca mudei de endereço
para não negligenciar meus desígnios
e o que me sustém de fato
é um excelso anseio de viver
Mágoa
Autor: Reirazinho on Monday, 15 May 2023A mágoa despreza a simpatia,
onde só há desgraça e rispidez,
o mundo do caos tornar-se-ia
o local onde os fracos não têm vez.
Ansiedade, dor e idolatria
resume toda a forte liquidez,
o homem então se cobriria
se adornado à voz da sensatez:
O amor já é inútil nessa via,
talvez pense que é estupidez,
e se nem isso você me confia
a mágoa não lhe será cortês.
o fulvo regato da poesia
Autor: António Tê Santos on Monday, 15 May 2023naufraga a boa-fé quando colocamos as nossas desventuras no bazar da inconsciência; quando vertemos as nossas lágrimas num asfalto incandescente; quando transferimos para a intolerância as nossa gratas emoções.
Pedra
Autor: Reirazinho on Monday, 15 May 2023Um menino lança a pedra n’água,
donde quica mil vezes no rio,
cada batida rasga com o vento
a vida da pedra e su’alma.
O quique é um passar de hora,
longínqua hora e minutos,
tempo entendiando o menino,
mas que afunda a pedra agora.
A noite fria se aproxima,
e o rio escuro reflete a lua,
o garoto deixa a cena
e a pedra, não mais se via.