há muralhas por derrubar numa atuação que ligue a minha existência à roda-viva da poesia: que desloque para o recheio da comunicação o meu perfume de solitário; que transfigure a nomenclatura do mundano entendimento.

Perdeu na esperança
o pouquinho de respeito,
de si perdeu a luta

caminhando só,
nos meus largos pensamentos
da minha orla mental

têm praças vazias,
e nas ruas estão cheias
de jovens perdidos

leio livros fortes
mas escrevo fraquezas:
é literatura

nem das águas vive
o sujeito sujo à deriva
à mercê do tempo

capturei o céu
e dei pro meu anjinho a casa:
o meu amor e o céu.

Mar de ar contínuo,
brisa gelada no rosto.
Um vazio constante.

1.

observo a flor

como quem fita o fulgor

de uma chama viva

sob a dócil bruma da manhã

2.

fantasia de humana feição

adorna seu contorno

natureza resoluta

que lhe constitui a beleza

3.

mas, se é flor apenas

-munida de sonhos

é o delírio que lhe sonha:

devaneio de sua vertigem

a essência do poeta está na profusa teia de conceções que ele transmite através da sua imaginação; através das gestas requintadas que ele descreve aos seus leitores; através dum prolongado lazer que benfeitoriza o mundo derredor.

Minha haste finca na alma,
Presa na terra íngreme,
Soterrada na cruz que desalma
O sepulcro que se estremece.

Minha katana já não corta,
Inimigo não me teme,
Fui rasgado na faca torta,
E morto na vida tênue.

Sou samurai das mil sombras,
Nas catacumbas sou lembrado.
Não fui de seppuku ou sondas,
Fui de guerreiro a enterrado.

Milésima parte

utilizo uma nomenclatura que me protege dos temporais; que atravessa as minhas contendas para me brindar com escritos basilares; que me liberta dos dissabores para que eu possa abranger uma sublime liberdade.