Versos Soltos 6

(Talvez Seja Este o Fim – Sexta-Feira)

 

Estou à muito deitado,

Mas não consigo dormir.

Não tenho sono mas estou cansado,

Só quero morrer ou fugir.

 

Ainda hoje acordei com vontade,

Com vontade de te abraçar e te ver.

A pensar que eras tu a minha metade,

Que faltava para me preencher.

 

Como dói estar tão enganado,

Versos Soltos 5

(Em volta de ti)

 

Sou um fantasma que vagueia pelo mundo,

Um vento que corre da terra e vai chorar ao mar.

Sou tal como um navio naufragado lá no fundo,

Mas que ainda sonha em poder navegar.

 

Sou um satélite que órbita em volta de ti,

Que quando não estás não sabe ser nem viver.

E que se alegra sempre que estás presente, aqui,

O CIPRESTE QUE SE ERGUE NO PÁTIO

O cipreste que se ergue no pátio

Na calma neblina da manhã

Dita em arrogância e coragem

A vida que lhe sobra por entre

A seiva, a corrente e a vagem

 

Iniciáticas todas as imagens

Destes elementos imutáveis de real

Nós é que sobramos da paisagem

E nos esfumamos breves no coral

Na praia, na planície e no areal

 

Ficam os nossos objectos, os resquícios

Reais de nós, como rastos de lava

Pedaços de vida, rastos de caracol

E a carne quente e astral do que somos

Barco Encalhado

Vês-me, tal como eu sou, velho e usado,

Já não me dás valor nem atenção,

As rugas, as brancas e a lentidão

Afastam-te deste barco encalhado.

 

Isolaste-me da tua sociedade,

Sem eu ser assassino nem ladrão

Enclausuraste-me nesta prisão,

Lixeira de cadáveres adiados.

 

Também eu já tive a tua juventude,

Também esse teu  mundo já foi meu

E eu, por ele, fiz o melhor que pude.

 

Ajuda quem ainda não faleceu,

Lembra-te que eu fui jovem como tu

E que tu serás idoso como eu!

A sombra das horas

O teu olhar é um poema,

a tua voz uma oração;

as tuas mãos são, na minha pele,

uma comunhão de sentidos secretos.

Os pássaros voam pelo firmamento

inquieto – perturbam,  por instantes,

a nossa quietude sublime.  O sol brilha

no cimo das cortinas cerradas e o amor urge,

no silêncio das palavras sussurradas.
 

O teu olhar recita a nossa solidão,

a tua voz exalta as minhas penas;

as tuas mãos afagam-me

por dentro da distância oculta do teu nome.

Os pássaros levam-nos os murmúrios serenos

A sombra das horas

O teu olhar é um poema,

a tua voz uma oração;

as tuas mãos são, na minha pele,

uma comunhão de sentidos secretos.

Os pássaros voam pelo firmamento

inquieto – perturbam,  por instantes,

a nossa quietude sublime.  O sol brilha

no cimo das cortinas cerradas e o amor urge,

no silêncio das palavras sussurradas.
 

O teu olhar recita a nossa solidão,

a tua voz exalta as minhas penas;

as tuas mãos afagam-me

por dentro da distância oculta do teu nome.

Os pássaros levam-nos os murmúrios serenos

ABRAÇOS DEMORADOS

ABRAÇOS DEMORADOS

Quero,
Viver veemente, não como sol de pouca dura
As rotas do sonho, a sorte do novo, o inovado
Voar sem medo pelos meus sonhos, não pela aventura
Um grande amor, gritar bem alto, que te tenho a meu lado …

Quero,
Nas emoções que dentro de mim crescem
O toque extasiado de muita luz, consciência pura
Cânticos q’ suavizem meu sono e que aos céus me elevem
Auroras de amor, abraços demorados de muita ternura …

Mariana Asper

NAS GOTAS DA CHUVA

NAS GOTAS DA CHUVA

A chuva cai, cai mansa
Molha a terra de momento
Sinto o cheiro que me desencanta
Das folhas secas trazidas pelo vento

Chuva fria, forte e constante
A terra tornará a ser fecunda
Os campos cobrir-se-ão de flores num instante
Serei um dia árvore de raiz profunda …

(…) Semente que floriu no cerejal,
Não me assustará, mais, nenhum vendaval!

Mariana Asper

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