Chagas

Assustei com uma canção feia. A minha esquerda. A minha direita. Para olhar para a frente. Olhei para trás. Vi a cruz das 4 direções do espaço. E parei. Parei diante de um cruzamento supersticioso. Com vermes. Corados. A espernear. Saídos de buracos húmi-dos com pêlos. Pretos. Mortos.

Miguelsalgado, "Escuro"

http://ectoplasma-miguelsalgado.blogspot.pt/

Dilúvios

2.

Sonhei com um cavalo-marinho de boca aberta nas montanhas.

Estava morto mas mexia-se.

O vento empurrava-o e ele rebolava com a boca aberta.

Nas montanhas vi homens e mulheres a dançar.

Um homem solitário escavava no meio dos homens e das mulheres.

E os homens e mulheres continuavam a dançar.

Riam-se da morte.

E havia água enlameada que não parava de subir.

Tive então um desejo: meter o arco-íris na boca do cavalo-marinho e entrega-lo ao homem que escavava.

Glória

Deixa adormecer. Pega no corpo. Mete o corpo numa banheira. Não deixes acordar. Faz furos até ao interior dos ossos. Espreme os ossos para que a medula saia. Não deixes acordar. Deita água a ferver para que a pele desapareça. Esmaga o corpo até ficar como uma folha de árvore. Não deixes acordar. Tira o corpo desse banho de sangue. Não dei-xes acordar. Pega no corpo. Enrosca o corpo. Mete o corpo num canhão a apontar para o céu. E dispara. Para que o corpo chegue até à abóbada celeste. Para que o corpo possa flutuar como uma folha caduca. E assim cair suavemente.

A Poetisa Zemary

A Poetisa Zemary

 

“As palavras se recusam a escravidão,” como diz a poetisa Zemary. Com toda razão, pois as palavras dão liberdade ao poeta, porque a poesia só tem compromisso com o íntimo e a harmonia gramatical. A nenhuma lei está subjugada a poesia, nem o poeta em seu delicioso entrelaçar com as palavras e os sentidos. A boca não pronuncia tanto quanto sentido poético, mas as palavras sim.

 

Charles Silva

COMPANHEIRO FIEL

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O Senhor Jesus, companheiro fiel!

Colocou açúcar na minha boca, quando amargava como fel!

Me abraçou, quando ninguém quis me abraçar!

Me carregou nos braços, quando não aguentava andar!

Me perdoou, quando ninguém queria me perdoar.

   Como posso deixar?

Esse amor tão verdadeiro, companheiro, um elo de ouro, da corrente que me ligou a Ele!

Sofro por Ele, vivo por Ele!

Não vivo sem Ele!

Ele é a Luz. Seu nome é Jesus.

 

Autora: Madalena Cordeiro

 

Amor de louco

Cingi a linha e toquei a saudade

Nas volúpias dores e levianas paixões

Quando a mim formei originalidade

 E a ti, quimera  das estações.

 

Louco amor deste desatino

Que me fizeste servo do que sirvo

Das ignotas lembranças que me esquivo

Como mole melodia de um sino.

 

Brancas são as noites de delírio

Mas pálidas que as almas dos sonhos

Doer e ferir  é canção no exílio

Em que vivo por viver tão tristonho.

 

E se vivo, viver é mais que doer

É estgmatizar e fazer ferir

Renovação

Quando a luz da Aurora chegar

Os anjos da lua vibrarem

Quando a primavera na alma cessar

E os sinos do templo tocarem

 

Quando o azul da Fantasia trouxer

Melodias supremas, serenas, etéreas

Quando a vida no firmamento fizer

Renovações de estrelas Aéreas

 

Já terás ido para o Eterno

Imortalidade de vivas cores

Pétalas da consagração das flores

Floco de neve do Inverno

 

Já terás ido pra os Altares

Ser dos deuses dourado Nume

Para cintilar nas favas como Lume

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