a falésia desmedida
Autor: António Tê Santos on Tuesday, 1 November 2022aparto-me das multidões para me libertar das suas posturas nocivas: para esgrimir contra as atoardas que injuriam; para espremer as ignomínias que persistem na sua verbalidade.
aparto-me das multidões para me libertar das suas posturas nocivas: para esgrimir contra as atoardas que injuriam; para espremer as ignomínias que persistem na sua verbalidade.
1.
tento ser eu: o que sou
uma pista que me persegue
como uma fera arguta
perdida no labirinto
que se desvenda em mim
e faz-me percursos
no escalpo da pele áspera
2.
tento ser eu: o que sou
preenchido pela lã da alva
recortado na geometria do corpo
e envolto em flores ingênuas
que eu mesmo recolhi
para conduzir a vida
nos itinerários da criação
Embalsamado, tão mumificado,
o homem enlaçado é engraçado.
Ele veste mil faixas e vai dormir,
já a bruxa, o enfeitiça e faz cair.
Seja nas tentações ou no papo,
o dorminhoco é otário, é fato.
Acredita no pós-vida e em Toth:
‘’O que está em cima, está no calote’’.
É um mero faraó enganado,
diferente do fantasma datado.
Faz ‘’bu’’ no meio da madrugada,
assusta até a velha encalhada,
pelo menos não é a dona morte,
bloqueio as atuações mundanas para pelejar contra os seus enlaces pútridos e as suas divergências inflamadas; e para repreender os seus discursos malvados quando transpõem o umbral da literatura para deprimirem a poesia.
a poesia ignora os gritos obscenos das multidões quando exalta a sensibilidade daqueles que procuram a sua luz fulva e redentora; ou quando investiga as querelas sórdidas no alforge do mundanismo.