Humor negro
Autor: Reirazinho on Sunday, 6 November 2022*
serpenteia a liberdade por entre os escombros do despotismo recolhendo os meus embaraços e cuspindo-os para o tinteiro da poesia; encorajando as minhas expedições ao cerne do mundanismo; transferindo para a minha razão os seus fulgentes estribilhos.
que seja assim...
e me perdoem os pecados
e os percalços
dessa abrupta ousadia
que até à onça assusta
o azul é do céu
-do mar: ilhéus
e me comprazo em mim
como ladrilhos
preenchendo a pele dos répteis
sou do tempo
como uma gôndola é de Veneza
mas quer reze, quer pleiteie
não me ocorre outro amor
sortido como um cesto
de gatos travessos
Viajei por BRs em noites com muito brilho das estrelas que iluminavam a ida e volta e as duas listras amarelas paralelas,
Alguns trechos tinham teu rosto agarrado a cada estrela.
Em muitos quilômetros teu nome esteve dentro de mim, flashes contínuos
enraizaram se dentro da memória, promessas que se tornaram vazias, profecias, rodovias que levavam a nada,
próteses ásperas dentro do coração
sussurros teus a visitar meus ouvidos
permaneci soldado à paisana, para não ser descoberto pela frieza longitudinal do seu corpo suave que era meu
aparto-me das multidões para me libertar das suas posturas nocivas: para esgrimir contra as atoardas que injuriam; para espremer as ignomínias que persistem na sua verbalidade.
1.
tento ser eu: o que sou
uma pista que me persegue
como uma fera arguta
perdida no labirinto
que se desvenda em mim
e faz-me percursos
no escalpo da pele áspera
2.
tento ser eu: o que sou
preenchido pela lã da alva
recortado na geometria do corpo
e envolto em flores ingênuas
que eu mesmo recolhi
para conduzir a vida
nos itinerários da criação