há uma dádiva secreta que expulsa o nosso infortúnio; que modera as nossas ambiguidades na orla dum mundo que rejeitamos; que cura a nossa embriaguês nas veredas caóticas que percorremos.
divulgo as crispações fomentadas pelos cânones da ordem dominante; as vertigens exprimidas pelos juízos que pendem da árvore calcinada do mundanismo; as sevícias perpetradas pelos energúmenos que impedem os nossos afetos.
apraz-me
a nitidez das manhãs
que dispersam meus temores
dobro-me
à benevolência das estrelas
que migram sobre mim
recorro-me
à esperança, para confirmar
esta vida que se apressa
tudo o que flui no estendal do tormento possui um aparatoso desempenho: possui bombas por detonar nas refregas que sobem a escadaria do terror; possui a fragilidade das almas inocentes que consentem nas peripécias das afeições.
O clima de chuva apazígua a tristeza. Ironicamente, já que o céu cinzento transborda melancolia. A frieza da tarde apetece-me a poesia. Sinto as várzeas da rotina exaurindo nos galhos molhados e nas folhagens quebradas. Rasgo um verso e outro, reciclo no coração a sensação mais afável. Todo o lixo vai a um lugar; chamo-o de poema.
existem abusos por suprimir quando os homens fundeiam na sua razão: quando trepam montanhas sublimes para colherem alvíssaras para as suas dores e para negarem as críticas infindas que os injuriam.
evito a tristeza quando me instalo no pedestal fictício que construí; quando trauteio cantigas jubilosas no centro duma gesta requintada; quando me aparto daqueles que promovem o infortúnio humano.