OLHO DE SOGRA

 

Olho de sogra 
Vê mais do que deve...
Procura o invisível,
Aumenta e não cede...
Gosta de controlar,
Agir e participar...
Mas escolhe o pior;
Insiste em ajudar...
Põe fogo ao redor;
Diz que foi a brincar.
Assim não dá para ver,
Esse olho a nos olhar...
É preferível não ter,
Essa santa a nos cuidar...
 
 
 
 

Noites Claras e Fontes Escuras

Quanto vale o maior dos seus sonhos

Quando é preciso que vários outros morram?

E quanto vale uma história

Quando é preciso aceitar outra que lhe vêm aquém?

 

Deitara em mim e eu em você,

Nas horas em que a noite era mansa.

Mas onde estava seu peito e perfume

Quando me propus a velejar pelos mares que não conhecia?

 

Ah, como foi doloroso afastar-me,

Ao Mar (SONETO ANTIGO)

    Ó meu amigo Mar, meu companheiro
    De infancia! dos meus tempos de collegio,
    Quando p'ra vir nadar como um poveiro
    Eu gazeava á lição do mestre-regio!

    Recordas-te de mim, do Anto trigueiro?
    (O contrario seria um sacrilegio)
    Lembras-te ainda d'esse marinheiro
    De boina e de cachimbo? Ó mar protege-o!

    Que tua mão oceanica me ajude,
    Leva-me sempre pelo bom caminho,
    Não me faltes nas horas de afflicção.

*DESPEDIDA AO SOL*

Adeus, adeus, ó Sol! grão moribundo
Tão amado dos mysticos amantes!
Vae dourando inda os ninhos e os mirantes
E os sinceiraes, o Mar, o velho mundo!

Vae! vae! ó astro lyrico! no fundo
Das aguas apagar-te!... Os teus instantes
São curtos, coração largo e profundo!
Mas da minha amargura semelhantes!
E, no entanto, astro de fogo, astro tyrano!
Se a tua chaga é funda, no Oceano
Todo o teu sangue ali podes lavar!...

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