O Senhor, cuja Lei é sempre justa

    O Senhor, cuja Lei é sempre justa,
    Deu-me uma infortunada mocidade,
    Talvez para eu saber (o que é verdade)
    Quanto é bom ser feliz, mas quanto custa!

    Feliz de quem no mundo sem piedade,
    Encontrou alma que lhe entenda a sua,
    Que o mesmo é que ter na mão a Lua
    Tão longe n'essa triste Eternidade!

    Os meus dias passavam tristemente
    Quando encontrei o teu olhar ridente:
    Foi a bençam de luz da Mãe de Deus!

Sua exitência

Quando olho pra você, o peito aperta

queria ser o seu amor, sua cama e sua coberta

toda  noite já virou rotina, sonhar contigo

quero te namorar, mas você só me quer como amigo

 

com a sua pesença eufeliz porém incompleto,

as vezes fico deitado  olhando para o meu teto,

lembrando, dos momentos que passamos juntos

mas todas as vezes que eu falo você quer mudar de assunto

*A UMA VOZ CELESTE*

A. C. de Carvalho

Na noute que passou
O Christo no Calvario,
Um rouxinol cantou
Sobre a Cruz, solitario.

Os trigueiros soldados,
E os lyrios de Salem
Perguntavam pasmados
--Que voz canta tão bem?

Como sentindo os males
Das suas proprias penas
Vergavam-se nos calix
Chorando as açucenas.

Choravam os caminhos,
Os dados, os cilicios,
A grinalda d'espinhos,
E a esponja dos supplicios.

CIDADES

 

Que cidades! É um povo para o qual foram montados Apalaches e Líbanos de

sonho! Chalés de cristal e madeira deslizam sobre trilhos e polias invisíveis.

Crateras ancestrais circundadas de colossos e palmeiras de cobre rugem

melodiosamente dentro dos fogos. As festas do amor badalam nos canais

a poesia jamais partirá

Meus pais sempre me diziam:

- filha largue a poesia,

porque você não vai trabalhar

naquele lugar carimbando

todo o dia?

É maravilhoso lá

ouvimos dizer

que os papéis nunca param de chegar

vais poder carimbar

carimbar 

e carimbar

e trabalho jamais vai 

lhe faltar

 

Eu lhes disse com um pouco de dor

pois todo e qualquer um 

deseja aos pais dar orgulho:

- amados pais,

por mais que eu a poesia abandonar

sem ela

não poderei respirar

o silêncio das pedras

 

Não desmereça o tempo
em sua face menos visível
atua o ínfimo

Teu poder absoluto desafia os mares
e teu cálculo impossível
entrega aos céus o meu destino

Todas as pedras me contam algo
até mesmo as pisadas que viveu
quando ainda meninos
subiam nos barcos piratas
e descobriam outros mundos
(tesouros secretos de casas amplas)

Meus austeros passos
derramam meu sangue pelo caminho
 

FANTASMAS DE DOMINGO

As sombras, em penumbras, me envolvem
Numa solidão inquieta e faminta
Em meus vazios bem guardados,
Reduzem o meu dia a sofrimentos...
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Aqui, nesta cama bagunçada
Reflito o caos dos dias sequestrados
Que roubaram-me sem me pedir
Deixando-me assim, em pleno Domingo!
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Sou um fragmento do que já fui
Embriagado com a dor imortal
Que me assombra a todo momento...

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