escritos
Autor: Clarice Lis Marcon on Wednesday, 2 January 2013Sobre a guerra
eu escrevi.
Sobre a guerra
eu escrevi.
Amo-te, flôr! Se te amo, Deus que o sabe
Que o diga a teus irmãos, que o céo povoam,
E ebrios de gloria canticos entoam
A quem no mar, na terra e céos não cabe.
Se te amo, flôr! que o diga o mar--que expelle
Quanto é dominio, beija humilde a praia:
Se mal que a lua lá das ondas sáia
Nas rochas me não vê gemer com elle.
Não consumas meu amor
como se fosse
uma jarra de vinho
Não me sugues
porque sabes
que no fundo de mim
encontrarás amor
Não se deleite
no leite do meu seio
que nosso amor me deu
e que agora
se desfaz em linho
Não existe nada
além do fim do amor
Talvez uma abóbora
Talvez um pote de nanquim
No fim
há somente um sim
sobrou um só
pedaço do coração
o outro foi comido e devorado
beiços lambidos
(AMOR DE COSINHA)
Afinal D. Juan vinha, hoje, a morrer d'uma indigestão.
(Palavras d'um grande realista)
Cançado de vãos fogos de Bengalla,
Como Pansa odeei o Pensamento,
E abandonei os ideaes de salla
--Pelo amor da cosinha succulento!
E os meus fortes desejos sensuaes,
--Desejos que hão de dar na morte escura!--
Soluçam só--ó deuses immortaes!
Só pela ama d'um florído cura.
Um vulto singular, um fantasma faceto,
Ostenta na cabeça horrivel de esqueleto
Um diadema de lata, - unico enfeite a orná-lo
Sem espora ou ping'lim, monta um pobre cavalo,
Um espectro tambem, rocinante esquelético,
Em baba a desfazer-se como um epitético,
Atravessando o espaço, os dis lá vão levados,
O Infinito a sulcar, como dragões alados.
Escrito em 4-6-1922.
Sim, talvez tenham razão.
Talvez em cada coisa uma coisa oculta more,
Se conseguissemos destruir a crença da humanidade na imortalidade , não só o amor, mas cada força viva em que a continuidade de toda a vida no mundo depende, secariam ao mesmo tempo.
Escrito em 10-7-1930.
O pastor amoroso perdeu o cajado,
E as ovelhas tresmalharam-se pela encosta,