velho moinho

Velho  moinho

 

Obra rústica de charme aconchegante

Engenho de sonhos,

Movidos a ventos

Entre as mós, eles vão girando

Transformando em suco

Os meus sentimentos

Velho moinho de versos

Hirto na aurora dos tempos

Sem alma, sem voz

Sem nada por dentro

O velho moinho

Que já foi feliz, está agora abandonado…

Fica a memória da dureza do grão

por tantos de nós superado

Junto aos grãos os condimentos

Raiva, amor, desencanto…

Perdidos no cenário campestre

Sonho azul

Sonho azul

 

Fecho os olhos e em alta voz

Penetro em sonho azul

Invoco Deus em minha oração

Adormeço débil e sonho que sou forte

Num universo em constelação

Não me despertem, quero viver

Viver sorrindo mesmo que seja em sonho

Morrer de amor e continuar sonhando

Como fazem os poetas

Quero ter pesadelos de otimismo

Deixar passar as horas de melancolia

Neste quarto mobilado de imobilidade

Vejo sombras que de longe me sorriem

São sombras de luz

Sombras

Sombras

 

Meus olhos se encheram de emoção

Diante das águas tranquilas do rio

Um sorriso iluminado acompanhou o meu olhar

Por entre os orvalhos da saudade

Tu estavas lá, olhando o rio

Com teu ar sereno e misterioso

Rodopiavas em pensamentos ao som do barulho do vento

É quase outono, o sol já se esconde envergonhado

Por entre as folhagens das árvores que teimam em cair

Como um pescador de sonhos

Alimentas a alma nos reflexos das águas do rio

Meu coração é uma folha solta no ar

Setembro

Setembro

 

Há um prenúncio de chuva

No perfume que a nuvem comprime

As folhas subtis das árvores

afagam suavemente o solo

pintando de cor a calçada

O vento do Norte

Mima com beijos suaves

As folhas que perderam a cor garrida

Num delírio enfraquecido do verão.

Ergue-se setembro

As estradas dos meus sonhos

Reabrem-se dentro de mim

O vento traz o fresco às madrugadas

A brisa baila por entre os campos

E eu sentada no banco do jardim

Poesia de Inverno

Poesia de inverno

 

Chegou o Inverno

As últimas folhas dos ramos

Lutam contra o vento

Surge a alvorada, com folhas a voar

A chuva chega, amedrontada

O mar majestoso fica sombrio

O Inverno está no ar

A brisa gelada que corre

Ao som arrepiante do vento

Divide comigo o frio da noite.

Fecho os olhos molhados

E penso num poema que faria,

Se meus olhos encharcados

Não estivessem cansados.

No jardim do parque

Há apenas folhas caídas, trituradas

Nuvem

Nuvem

 

Suprema obra majestosa

Branca ou cinza suspensa

No infinito Céu azul

Quando é cinza

Há folhas ao vento

Quando é branca

Em minha alma se abriga

Nuvem majestosa pintada de prata

Nuvem densa no azul do céu

Que lança para a terra

Gotículas de água em forma de véu

São gotas de saudade

Lágrimas derramadas

Neste mundo ateu

Deslizam pelo horizonte

Como estrelas cadentes

Abraçam a vida

Como a criança que sai do ventre

Minha mãe

Minha mãe

 

Ser sublime criado por Deus

Figura que dá contorno e luz à minha vida

Meu porto seguro

Binómio sagrado, que Deus fez

Para me dar colo

Para me amamentar e me dar carinho

Para me ensinar os primeiros passos…

Minha Mãe

O pilar da minha vida

Que é capaz de me colocar

Um brilho nos olhos e um sorriso

Quando me vê chorar

Minha flor de primavera

Meu céu estrelado

Nas noites frias de inverno

Minha mãe

Mar

Mar

 

 

Foste ideia do Criador e minha alma te admira

Mar salgado de águas doces

Nas tuas ondas, creio que está a liberdade

Quanto não daria para descobrir

Que mistérios guardam tuas águas!

Teu iodo é tua força

A luz do sol acaricia-te em pleno dia

E os astros te protegem na noite escura

És um ser de vida e de paixões

Escutas, choras, enlouqueces e amas,

Embriagas de imensidão e apaixonas

A solidão te aproxima do vazio

Mas a lua espelha tua grandeza no céu

Doce quimera

Doce quimera

 

Nesta vida efémera

Onde o vento silencia

E a lua prateada se transforma

A ilusão e a fé, dão sentido à minha vida

Doce quimera…

Por de trás de um sorriso, anunciaste a tua partida

Mas em que instante te deixei de ver?

Em que momento te reencontrei?

Não, não estás sobre a água

Não, não estás por entre as chamas

É o vento, o mar e o fogo que te sustentam

E se te quero ver, tenho que fugir das estrelas

Este aperto silencioso, é difícil de entender

Os poetas

Os poetas

 

Às vezes se apaixonam por musas

Silenciam, argumentam, discutem

Com a folha de papel e a caneta

No final do dia quando anoitece

Procuram a paz

E quando se encontram a sós com a alma

A poesia acontece!

Tiram dentro do peito a Emoção

Aspirando o aroma da poesia

Os versos que escrevem

Vêm de dentro do coração

As almas dos poetas

Não as entende ninguém

Escrever, é a sua terapia

Conjugam o verbo amar

Em perfeita harmonia

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