Amor

E morreu a dor

Hoje faz anos que morreu a dor
Já não a encontro no olhar lânguido da invernia 
Todos os lugares tristes que por ela passaram são apenas memórias,
recordações esbatidas pelo decorrer do tempo
ali não quero voltar, apenas saber que ela existiu para não esquecer  
 
Em tempos queria fugir de mim, apagar o rasto das memórias infelizes
Hoje quero permanecer, acordar para os olhares brilhantes e límpidos  
das criaturas que habitam na água do mar

Há tanto de ti em mim

há tanto de ti em mim e ainda nem te conheço
reconheço-te nas brumas da madrugada, 
nas promessas de instantes que se avizinham  
adivinho-te em mim como um sopro de vida, 
como a única nota musical que se adequa ao momento 
tocada suavemente pelas teclas de um piano  
 
A música envolve os sentidos
há torrentes de notas mornas a escorregar 
pelas paredes, respira-se branda e cadentemente 
numa atmosfera de calor 

Deixa girar o mundo

deixa girar o mundo

abranda-o só para que eu possa descer nele

tudo é, tudo foi, tudo será

o nada acontece no tudo, o tudo no nada 
deixa girar o mundo, aquieta-o apenas de tanta turbulência

no teu olhar me detenho
como uma fábrica de sonho 
ante a lembrança de um momento feliz
daqueles que só tu provocas porque és feito de matéria rara 

És lindo

Fica sabendo que reúnes em ti todos os pedaços de beleza do universo. Construi-te com a força das escarpas, com a leveza da espuma do mar, com o brilho do sol que se reflete na água prateada deixando um mar de pequenas estrelas cintilantes. Acrescentei-lhe a intimidade do tempo e a dor da ausência que habita o coração das rochas milenares. Embebi a tua pele em sumo dos limos salgados, fabriquei os teus músculos com as ondas do mar revolto, e nos teus olhos acordei a memória do universo. 
A tua beleza está no meu desejo, nos meus olhos, na minha peculiar forma de te amar.

A tua ausência dói-me

 

se aqui estivesses meu amor, 
dar-te-ia um suave beijo na pele que és tu 
mas estás ausente 
e a tua ausência dói-me

não há saudades mais dolorosas 
do que as das coisas que nunca foram
tenho um mundo de palavras dentro de mim
com vidas próprias, reais, definidas e imperfeitas 
tão imperfeitas quanto a minha condição de ser errante
que te quero oferecer 

Tirem-me tudo, excepto a memória do teu rosto, morreria feliz...

Quero saber-te de mim meu amor, nos instantes tangíveis quero que sejas matéria fina, de extrema elegância, de extrema delicadeza, nos instantes intangíveis serei um amontoado de partículas finas de pó de ouro, aquelas partículas que podem tocar suavemente no rosto e moldá-lo para que fique encantadoramente belo. Mas não é necessário o embelezamento porque a tua natureza é rara, vens do sítio do universo onde tudo é de uma beleza intrínseca. 

APENAS UM FIM

APENAS UM FIM

 

Quando juntos, juntinhos lado a lado,

Trilhámos rumos, sonhámos acordados

Cantando o amor em silêncio imaculado

Como imberbes peregrinos degradados.

 

Quando ao de leve os dedos se tocavam

Em cálidos murmúrios sussurrados,

Enlaçados em palavras que sobravam,

Calavam os gritos dos beijos desejados.

 

Mas um dia entre nós um frio soprou,

Embalado em ventos do norte agreste,

E tal como morte lenta se impregnou

Nas professas ilusões que me fizeste.

Vírus de Amor

Virus de Amor
 

Por Vênus corpos imantados de prazer
Atraem pelo belo facto do amor
Enlouquece a carne de desejo.
Faz do sangue cálice espumante de fervor
Desvaira a alma
A sede aparentemente insana cessa no doce suor
Que nos prende faz do corpo escravo.
Vai-vem enigmático
Que nos cela em paradoxo.
Corpo ou alma?
Gelo ou calor?
E mais tarde…
Quando a emoção é tanta os corpos explodem
E a gigante ação desfaz em gozo.
E mesmo ainda sem entender nada

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