Geral

SOLIDÃO

(A insónia prolonga-se no tempo e a utopia flui no destempero da poeira palpitante)

Lavro o destino nos dias que não resistem
Às noites amantes, que inusitadas, caem
Pérfidas, incompletas e imperfeitas.

No entardecer reentram as noites e insistem,
Que partindo, prostituem a verdade e saem
Deixando no seu encanto, ilusões desfeitas.

(Esconjurado na incauta génese da ilusão, queria por um momento só, ser sonho. Sonho de luz angélica e exultante)

Lugar certo

     Para onde vai os meus passos

    Passos ligeiros, largos, seguindo o instinto

    Presinto que caminho para o lugar certo

    Certeza não tenho; mas continuo

     Tudo que desejo está à minha frente e, com o passo apressado  vou

      Não será em vão, um pássaro encantado ao meu ouvido sussurrou:

      ---É esse  o caminho!!

 

 Nereide

     

UTOPIA?

Entro na máquina do tempo.

Viajo 365 dias e que vejo?

Alegria e felicidade;

Um Deus único, apelidado

De muitos nomes,

Mas olhado por todos como fonte de paz,

Fraternidade e amor.

Governantes ao serviço do povo

Distribuem riqueza, velam pela saúde,

Investem na educação.

A justiça social impera,

Há entrega em vez de corrupção.

Uma grinalda de luz e cor,

Envolve toda a Terra.

Todos estão nas ruas,

Trazem uma flor branca nas mãos.

Entoam um hino ao AMOR,

HOMEM FEITO MÁQUINA

O cérebro eletrónico adoeceu.

Há fios retorcidos, resistências queimadas.

Aquela caixa metálica, sempre disponível,

Começa a confundir-se, a errar os cálculos,

A não responder ao programado.

Um ser inútil, afinal.

 

O cérebro eletrónico morreu.

Sobre ele, debruçam-se, com olhar técnico,

Todos os que o utilizaram em vida.

Todos se interrogam e querem saber:

Que doença misteriosa fez parar,

A máquina inesgotável, sempre pronta,

Que se deixava só, num canto da sala

A CIDADE CRESCE

A cidade cresce.

Os homens amesquinham-se entre os carros,

Que não têm por onde andar.

Árvores medrosas exibem nos ramos,

Folhas mortas de poluição.

E o homem, animal da orla da floresta,

Enfurece-se, qual fera cativa do cimento que o cerca,

Na nevrose quotidiana, que não ousa compreender,

Por indecifrável e vazia.

 

A cidade cresce.

As crianças surgem dos buracos das ruas.

Os drogados, vadios, abandonados,

Viram detritos nas portas de tascas e cafés.

FALSA APARÊNCIA

Pinta de branco o barro cru da jarra tosca.

Coloca-a numa sala entre sofás e livros raros.

Enfia-lhe flores vistosas, colhidas numa estufa.

Põe-lhe um selo, um carimbo, dá-lhe um rosto…

E terás falsa porcelana.

 

Traça a cinza veios em seu bojo,

Esfrega verniz. Na boca um aro dourado.

Coloca-a sobre um suporte de negro polido.

Dá-lhe lugar vistoso, na sala de visitas.

E terás belo mármore.

 

Deita-lhe água dentro.

Pouco a pouco…

Cai o verniz, abrem-se brechas na pintura.

ESTOU FARTO

Estou farto das caras sem olhos,

Que me olham.

Dos lábios sem fala,

Que me falam.

 

Dos que se sentam à mesa do café,

Só porque se sentam.

Dos cínicos servis, que me saúdam

Com pancadinhas nas costas,

Como Amigos.

Estou farto dos pobres e dos ricos,

Dos que me atacam pelas costas.

 

Por ser amigo…

Desilusões sofro.

Pouco lucro.

Nem Amigos.

Estes não se compram com gestos ou palavras;

Simplesmente, existem.

 

Marcam presença na própria ausência,

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