Geral

Sem Título 42

É-me inevitável!
Diariamente sou impelido
a dialogar lúcido com meus próprios medos,
esses medos têm medo de mim e eu deles
os medos têm aflitivamente medo de todos os medos,
dormem fraquejados na tosse de uns e de outros,
de todos...
Tomam-se, lassam-se, escorraçam-se!..
Quando os medos começam a respirar,
ralham-nos,
inflamam-nos,
dissolvem-nos,
impossibilitam-nos,
calcinam-nos...

Sem Título 41

Adiante o ritmo, depois e depois a dor!
Dor morta!...
Dor que faz de conta!...
Dor que anda morta!...
Dor que vira desnorte brasa de tanto praguejar!...
Dor que entre épocas canta ao bondoso ritmo!...
Ritmo que perdura nas docílimas plantas da nossa dor!
Dor que vive para procriar
o destino do ritmo por escorregar
como derretida cera
na consumada alma!
Adiante o ritmo, depois e depois a dor!
Admite,

Sem Título 40

Escolhi cortar os nervos das fissuras
para penetrar em meus olhos doirados
 
De uma ponta a outra recortei uma manta de lume
para os marnotos queimarem as grinaldas outrora tua presença
 
Teu belo corpo desmorona toda uma realidade
e o mármore liquida-se nos liames da alma
 
O mar fala-me, encarcera-me no volume
dum temperamento caprichoso
O mar esconde a treva que me espalha
 
Sei que já foste espuma de dálias

Sem Título 39

Foste abatida por flocos de perfume branco porque 
te deixaste ir à deriva das rupturas combatidas p’los lábios 
de granizo no franzido céu. Não tive outra chance senão
aprender com torpor a fácil arte de estudar a luz de todos os cometas, 
subterfúgio do meu vivo crime!
Ó, novíssimo crime!
 
 

Sem Título 37

Visto-me na colónia do medo
porque já nada sei ser senão medo desmembrado
com a sensação presa de me aprofundar
num remoinho golpeante
p’los vidros em derramamentos que me tocam
até aluar escarpas em lágrimas mil...
Quando será que vou poder tactear
a infância para descalço brincar?
Tenho tantos medos
quanto medos!...
 

Sem Título 36

Impôs-se escorregadia
lava da vertigem resvalando
todo meu ser em amenas
folhagens matutinas que seriam
hasteadas p’lo pico
da tua porta púrpura.
Fundi-me
sonora água encurvada.
Somenos
soldar bolsas de feixe
irrompesse tuas ânsias
em formas febris,
eu rodaria as quentíssimas tardes,
voaria num frutado cachecol aquém,
esticaria delicadamente
um cordel de brasas às extremidades

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