Geral

Apagão

 

É comum o sapo morrer na lagoa.
O mendigo comer lixo na sarjeta 
O tráfico de entorpecentes nas escolas, 
A fila quilométrica do INSS fazendo curva na rua estreita
O moleque desde a tenra idade viciado em cola.

É comum a violência subjugar a lei. 
A mãe com uma “penca” de filhos no semáforo pedindo esmolas 
O inocente ser refém da mesma grei,
Os filhos desesperados do desemprego 
os escravos das drogas.

É natal

 

Vejo anjos brincando na chuva.

Uma nuvem alvinha sobre meus olhos flutuar

Crianças vestidas de ternos e luvas...

Em noites brilhantes a bailar. 

É natal! Exclama no céu azul uma estrela pequenina.

E na terra... Tão ferida pela guerra, e desamor,

Pelo o egoísmo, e pela dor.

Nasce luz... A paz gloriosa que a todos sublima. 

Por um instante os homens reconhecem seus vis retratos.

Não se veem mais mendigos nas esquinas

O soar inflamado das tribunas “cretinas”

SEGUNDO PSALMO DE DAVID

    Porque anda o mundo todo enfurecido,
    Se esforços contra Deus são todos vãos?
    Os grandes, mais os reis, deram as mãos
    Contra o Senhor, contra o seu Ungido,

    --Estas correntes, é despedaçal-as,
    Este jugo atirar com elle fóra!
    E lá cima no céo, o que lá mora
    Não faz mais que sorrir-se de taes fallas.

    Mas em lhe dando a ira, aonde então
    Se hão-de metter, com medo, os desgraçados!
    Coroou-me rei no alto de Sião,
    Cumpre-me publicar os seus mandados.

PRIMEIRO PSALMO DE DAVID

Bemdito o que não cahe em se guiar
    Por conselhos de gente depravada;
    E em vendo que vai mal, muda de estrada,
    E nunca se demora em mau lugar;

    Que o seu empenho é só unicamente
    A lei de Deus, que estuda noite e dia.
    Como a arvore ao pé d'agua corrente,
    Dá a seu tempo o fructo que devia.

    Nunca lhe cahe a folha; empresa sua
    Sahe por força conforme o seu intento;
    Em quanto o impio, o mau trabalha e sua,
    E é sempre como o pó, que espalha o vento!

*NO ENTERRO D'UM CORAÇÃO*

(A Betencourt Rodrigues)

Vaes a enterrar nas hervas verde-escuras,
Na fria terra, ó santa, que devias
Não ter roçado estas paixões impuras,
E estas lepras,--irmã das cotovias!

Vaes a enterrar sob as folhagens frias,
--Vóz alegre, rir cheio de doçuras!
Ó lindo coração! que só te abrias
Para a dôr das alheias amarguras!...

Vão-te levar á terra, ó casto e amado!--
Mas olha!--os vegetaes tem mais cuidado
Dos seios virginaes do que a paixão!...

*A LENDA DAS ROSAS*

No principio eram mais doces os olhares
      Socegados de Deus!
Era mais verde o manto destes mares
      E mais azues os ceus!

Não tinha nuvens este sol na rota,
      Nem tormentas o Sul,
Nem era, como o olhar d'um idiota,
      Impassivel o azul!

Não choravam no val escuros casos,
      Á noute, os tristes ventos!
Nem eram como hoje, nos occasos,
      Os ceus sanguinolentos!

NOITES GELIDAS

 

MERINA

Rosto comprido, airosa, angelical, macia,
Por vezes, a allemã que eu sigo e que me agrada,
Mais alva que o luar de inverno que me esfria,
Nas ruas a que o gaz dá noites de ballada;
Sob os abafos bons que o Norte escolheria,
Com seu passinho curto e em suas lãs forrada,
Recorda-me a elegancia, a graça, a galhardia
De uma ovelhinha branca, ingenua e delicada.

Sestança

    Ia em meio da minha Mocidade,
    Perdido d'affeições, ao vento agreste,
    Quando na Vida tu me appareceste,
    Sestança, minha Irmã da Caridade!

    Ninguem de mim dó teve, nem piedade,
    Ninguem n'a tinha, só tu a tiveste:
    Quantas velas á Virgem accendeste!
    Quantas rezas nos templos da cidade!

    Que te fiz eu, Espelho das Mulheres!
    Para assim merecer um tal cuidado
    E tudo quanto ainda me fizeres?

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