Geral

Varão Extinto

 

 

 

Narra-se o poema, ao consumo da reticência

Pelo olhar longínquo, no horizonte do Poeta

Mais alto que a voz, anseio de Profeta

Ao maior das marcas em sua existência

 

Louva-se o vento, aventureiro abastado

Comendo, por dentro, o pó da essência divina

Ao cantar da lágrima, num sopro que o defina

Por um pouco ao desdém do tempo encontrado

 

Que as flores prosperem, ao saber da Primavera

Florindo nas cores do olhar capaz

De onde se rompa o peito, libertando a paz

Alegria Urgente

 

 

A multidão consumia-me com os olhos;

Tu: Embrulhavas-te no convívio do entretenho;

Eu: Passava por ti; ao largo, quando, no meu coração,

Havia a revolta das diferenças, “por me sentir único”

«Quando queria ser mais: Mais que gente…

E encontrar-te, para mim, naquela virada da sorte;

Tão certa quanto a morte…

Onde teu beijo me acordasse, uma alegria urgente» …

VIRGINIA

Para se recitar no theatro do Príncipe-Real

    Senhores! vêde o sol; diariamente
    Nasce, cruza esse espaço e, no poente,
            Acaba de brilhar.
    É util, é preciso, é necessario,
    Não é pois inconstante, não é vario;
            É certo, é regular!

    Hervas que nutrem, animaes que comem,
    E a imagem de Deus--que falla--o homem,
            Sem essa luz, dizei:
    Vegetavam acaso, existiriam?
    Os echos d'esses valles repetiam
            Alguma voz? O que!...

_ESTOICISMO_

 

Tu que não crês, nem amas, nem esperas,
Espirito de eterna negação,
Teu halito gelou-me o coração
E destroçou-me da alma as primaveras...

Atravessando regiões austeras,
Cheias de noite e cava escuridão,
Como num sonho mau, só oiço um não
Que eternamente echôa entre as esféras...

--Porque suspiras, porque te lamentas,
Cobarde coração? Debalde intentas
Oppôr á Sorte a queixa do egoísmo...

Deixa aos timidos, deixa aos sonhadores
A esperança van, seus vãos fulgores...
Sabe tu encarar sereno o abismo!

PIEDADE!

 

      Em torno da mesma idéa,
      Meu ardente pensamento
      Constantemente volteia.
      Que horas estas de tormento!
      E póde viver-se assim?
      Que força tens, coração?
      Pois tudo que sinto em mim
      És capaz de supportar?
      Oh! basta! por compaixão
      Deixa emfim de palpitar!

Agosto de 1856.

O Teu Retrato

    Deus fez a noite com o teu olhar,
    Deus fez as ondas com os teus cabellos;
    Com a tua coragem fez castellos
    Que poz, como defeza, á beira-mar.

    Com um sorriso teu, fez o luar
    (Que é sorriso de noite, ao viandante)
    E eu que andava pelo mundo, errante,
    Já não ando perdido em alto-mar!

    Do ceu de Portugal fez a tua alma!
    E ao vêr-te sempre assim, tão pura e calma,
    Da minha Noite, eu fiz a Claridade!

ESCREVE!

Não sei o que suppôr
    Do teu silencio. Escreve!
    Quem é amado deve
    Ser grato ao menos, flôr!
      Se eu fosse tão feliz
    Que te fallasse um dia
    De viva voz, diria
    Mais do que a carta diz.
      Mas, olha, tal qual é
    Não rias d'esse escripto
    Que, pouco ou muito, é dito
    Tudo de boa fé.
      Ha n'esse teu olhar
    A dôce luz da lua,
    Mas luz que se insinua
    A ponto de abrazar...
      Pareça n'elle sim

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