CONTRARIEDADES
Autor: Cesário Verde on Sunday, 6 January 2013
Toda a Paz, todo o Amor, toda a Bondade,
Toda a Ternura que de ti me vêm,
Amparam-me esta triste mocidade
Como nos tempos em que tinha Mãe.
Quanto eu te devo! Odios, impiedade,
Indignações e raivas contra alguem,
Loucuras de rapaz, tedios, vaidade,
Tudo isso perdi--e ainda bem!
Salvaste-me! Trouxeste-me a Esperança!
Nunca m'a tires não, linda criança,
(Linda e tão boa não o farás, talvez!)
O mar que embala, ás noites, o teu somno
É o mesmo, flor! que á noite embala o meu.
Mas em vão canta a minha ama do Outomno,
Pois pouco dorme quem muito soffreu.
Mas tu feliz qual rainha sobre o throno,
Dormes e sonhas... no que, bem sei eu!
O teu cabello solto ao abandono,
As mãos erguidas de fallar ao céo...
Feliz! feliz de ti, doce Constança!
Reza por mim, na tua voz chymerica,
Uma Avè-Maria de Esperança!
O lagarto está chorando
A lagarta está chorando
O lagarto e a lagarta
Com aventaizinhos brancos
Hão perdido sem querer
Seu anel de casamento
Ai! Seu anelzinho de chumbo,
Ai, seu anelzinho chumbado
Um céu grande e sem gente
Monta em seu globo aos pássaros
O sol, capitão redondo
Leva um colete de raso
Olhem que velhos são!
Que velhos são os lagartos!
Ai como choram e choram,
Ai! Ai! Como estão chorando!
a igreja ainda mantém em segredo
a terceira e última revelação de Fátima
I
Ó as enormes avenidas do país santo, os terraços do templo! O que foi feito do
brâmane que me explicou os Provérbios? Desde então, ainda vejo as velhas de
Não tinha onde escrever,
Então escrevi em ti,
Para não esquecer
Tudo aquilo que senti.
Quando te estava a ler
Meu inconsciente viajou ,
No teu interior foi viver
O meu corpo abandonou.
Fiz da tua a minha história
Com momentos de ternura,
E conquistei a minha glória
Num momento de bravura.
Regressei à realidade
Quando te acabei de ler,
Mas ficou a vontade
De um dia te reler.
Mulher! quando nos braços
Te escuto uma canção,
Não vês em meus abraços
Profunda commoção?
É que o teu canto á mente
Me traz vida melhor...
Ah!
Cantai continuamente,
Cantai, oh meu amor!
Quando sorris, assume
Teu rosto uma expressão,
Que o mais feroz ciume
Se desvanece então.
Sorriso tal desmente
Um coração traidor...
Ah!
Sorri continuamente,
Sorri, oh meu amor!
A Silva Qinto
Eu não amo ninguem. Tambem no mundo
Ninguem por mim o peito bater sente,
Ninguem entende meu sofrer profundo,
E rio quando chora a demais gente.
Vivo alheio de todos e de tudo,
Mais callado que o esquife, a Morte e as lousas,
Selvagem, solitario, inerte e mudo,
--Passividade estupida das Cousas.
Fechei, de ha muito, o livro do Passado
Sinto em mim o despreso do Futuro,
E vivo só commigo, amortalhado
N'um egoismo barbaro e escuro.
Os bosques para mim são como catedraes,
Com organs a ulular, incutindo pavor...
E os nossos corações, - jazidas sepulcraes,
De profundis também soluçam, n'um clamor.
Odeio do oceano as iras e os tumultos,
Que retratam minh'alma! O riso singular
E o amargo do infeliz, misto de pranto e insultos,
É um riso semelhante ao do soturno mar.
Ai! como eu te amaria, ó Noite, caso tu
Pudesses alijar a luz que te constéia,
Porque eu procuro o Nada , o Tenebroso, o Nu!