Geral

Combate

Fazer versos delirantes
Ao teu frio coração
É como engastar diamantes
N'um ad'reço de latão;

O ULTIMO D. JUAN

D'aquelle de quem falo, as socegadas lousas
Podiam-vos contar as violações brutaes!
A gula com que morde as mais sagradas cousas
D'horror faz recuar os trémulos chacaes.

Não descanta á viola, á noite, os seus enleios:
Elle vive na sombra e eu sei também que vós,
Gentis bellezas d'hoje, ó astros dos Passeios,
Lhe não lançaes, a furto, a escada de retroz.

Distante Melodia

Num sonho d'Iris, morto a ouro e brasa,
Vem-me lembranças doutro Tempo azul
Que me oscilava entre véus de tule -
Um tempo esguio e leve, um tempo-Asa.

Então os meus sentidos eram côres,
Nasciam num jardim as minhas ansias,
Havia na minh'alma Outras distancias -
Distancias que o segui-las era flôres...

Caía Ouro se pensava Estrelas,
O luar batia sobre o meu alhear-me...
Noites-lagôas, como éreis belas
Sob terraços-liz de recordar-me!...

*O PECCADO*

Nunca cessamos de peccar
     (Imitação de Christo)

I

*Ubique doemon*

Bem sei... e mais que o sei, claro luar!
Que segundo a severa theologia,
Pelas noutes sonoras de poesia
O aroma dos lyrios faz peccar!

Quem vos diría!... madresilvas, mar,
Lilazes, claros rios, cotovia!
Que ao dizer da tirannica theoria,
Vós farieis a Carne triumphar!

Ah! Natureza, pois, se és criminosa,
E nos levam ao mal urnas da rosa,
Bom coração de Christo imaculado!...

MARGARIDA

Oh que formosos dias, Margarida!
    Esses da tua vida;
    E que nublados
    Meus dias desgraçados!

    Nasci tambem assim risonho e meigo,
    Mas hoje apenas chego
    O calix da ventura
    Á bocca ancioso,
    Torna-se a agua impura
    E o liquido que bebo
    Venenoso,
    Sim, venenoso o liquido que bebo.

Epilogo

Meu coração, não batas, pára!
Meu coração, vae-te deitar!
A nossa dor, bem sei, é amara,
A nossa dor, bem sei, é amara...
Meu coração, vamos sonhar...
Ao mundo vim, mas enganado.
Sinto-me farto de viver:
Vi o que elle era, estou massado,
Vi o que elle era, estou massado...
Não batas mais! vamos morrer...
Bati á porta da Ventura
Ninguem m'à abriu, bati em vão:
Vamos a ver se a sepultura,
Vamos a ver se a sepultura
Nos faz o mesmo, coração!
Adeus, Planeta! adeus, ó Lama!

Dá-me esse jasmim de cera

 --Dá-me esse jasmim de cera,
          Minha flôr?
    --Mas e depois se lh'o dera,
          Meu senhor?

    --Depois? era uma lembrança.
          --Mas de quê?
    --D'uma tão linda criança,
          Já se vê.

    --Oh tão linda! Mas, parece,
          Sendo assim,
    Que inda quando lhe não désse
          Tal jasmim...

    --Não me esquecia, de certo.
          --Nunca já?
    --Nunca.--Nunca, é muito incerto,
          Mas... vá lá.

CARTA

    Maria! vêr-te á porta a fazer meia,
    Olhando para mim de vez em quando,
    É o que n'esta vida me recreia.

    Acordo até de noite suspirando
    Por que rompa a manhã e tenha o gosto
    De te vêr já tão cedo trabalhando.

    Desde pela manhã até sol-posto
    Que não tens de descanço um só momento;
    Por isso tens tão bella côr de rosto.

    E eu pallido, Maria! O pensamento
    Não é trabalho que nos dê saude,
    Esta imaginação é um tormento.

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