Geral

A MÃE

Eu canto-vos, mulher, por que vos tenho visto
Na palpebra vermelha a lagrima d'amôr,
Que vem d'Eva a Maria--a doce mãe de Christo--
Formando a stalactite immensa d'uma dôr!

Oh, quantas vezes já n'aldeia miseravel
Nas tristezas do campo, ás portas dos casaes,
Vos tenho surprehendido, em extasi adoravel,
Em quanto os filhos nús ao peito conchegaes!

A fria noite chega. Os maus, de bocca cheia,
Rebolam-se na terra: ainda pedem pão!
Com elles repartis a vossa parca ceia;
E vendo-os a dormir podeis sorrir então.

*A UMA JUDIA*

(SAUDAÇÃO)

     Avé Regina!
     (Hymno Catolico)

     Podem apagar o Sol e as estrelas, bastam-me os olhos da minha
     amada!
     (Idyllio persa)

     Le second soleil! Le second soleil.
     (Phan taisies scientifiques de Sam)

Ó filha d'Israel, ó vestal impolluta!
--Serena como a côr diaphana do azul--
O rebelde da Luz vencêra Deus na lucta
Se armara contra os ceus teus cabellos do Sul.

A Escriptura Sagrada

    A Escriptura Sagrada
    Lá diz que uma mulher má
    Não ha fera, não ha nada
    Peor no mundo: e não ha.

    Uma lá da minha aldeia,
    Que era muito impertinente,
    Muito má (e muito feia)
    Morre um dia de repente.
    Morreu; desgraçadamente
    Mais tarde do que devia;
    Mas em summa toda a gente
    Teve a maior alegria.

INNOCENCIA

    Encolhe as azas, que te abrazas, louca!
    O fogo mata a quem o gera, attende;
    Foge e, se a vida te aborrece, estende
    Um braço aos anjos, que a distancia é pouca.

    Porque uma nuvem, onda transitoria
    Do mar immenso, vem pousar na serra,
    Não fica a nuvem pertencendo á terra:
    Tu és o anjo que desceu da gloria.

    Estranhas forças para ti me attrahem;
    E ás vezes cedo, tua cinta enleio;
    Teus olhos beijo; mas, contemplo o seio,
    Tua alma dorme, e os meus braços cahem...

BEATRIZ

    Tu és o cheiro que exhala
    Ao ir-se abrindo uma flôr,
    Tu és o collo que embala
    Suas primicias d'amor.

    Tu és um beijo materno,
    Tu és um riso infantil;
    Sol entre as nuvens do inverno,
    Rosa entre as flôres d'abril.

    Tu és a rosa de maio,
    Tu és a flammula azul,
    Que atam á flecha do raio
    As nuvens negras do sul.

    Tu és a nuvem d'agosto,
    Meu alvo vello de lã!
    Tu és a luz do sol-posto,
    Tu és a luz da manhã.

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