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LYRA XVII.

Minha Marilia,
Tu enfadada?
Que mão ousada
Perturbar póde
A paz sagrada
Do peito teu?

  Porém que muito
Que irado esteja
O teu semblante
Tambem troveja
O Claro Ceo.

  Eu sei, Marilia,
Que outra Pastora
A toda a hora,
Em toda a parte,
Céga namora
Ao teu Pastor.

  Ha sempre fumo
Aonde ha fogo;
Assim, Marilia,
Ha zelos, logo
Que existe amor.

Em fumo se vai tudo, amigo! Olhando

    Em fumo se vai tudo, amigo! Olhando
    Para as nuvens do céo, nuvens d'aquellas,
    E parece-me ainda que mais bellas,
    Anda a gente fazendo e desmanchando.

    Dá-me uma saudade em me lembrando
    O bello tempo que passei com ellas,
    Por essa immensa abobada de estrellas,
    Por esse mar de fogo viajando...

    Andasse ainda eu lá, que não me havia
    De vêr por estes charcos atolado,
    Onde nem sol nem lua me alumia.

CARTA: _Tendo mandado huma Senhora ao Author Vinho da Madeira com huma Carta em boa Poezia_.

Hum humilde admirador
Da vossa bondade, e estilo,
Beija a Carta precioza,
Que veio honrallo, e instruillo;

Desde hoje, do Mestre Horacio
Minha alma a lição escuza;
Quiz a minha Bemfeitora
Ser tambem a minha Muza;

De fino licor mandastes
A minha cava prover;
A vossa mão generoza
Sabe dar, como escrever;

A' parca meza assentado,
Em Vinho, e Carta pegava;
Hia bebendo, hia lendo,
E tudo me embebedava;

*Boletim militar*

_1814_

      Vae rir-se desdenhosa a sombra de _Pombal_!
      Era doida a rainha. O principe regente
      Ostentando gentil a bochêcha eloquente
      Tinha bom appetite e ventre clerical,

      Mas logo que Junot açaima Portugal
      Embarca a toda a pressa e deixa a nossa gente,
      Panda véla o conduz ao Brasil florescente,
      E rapido imagina um plano theatral.

      Veloz como no monte a trepida gazella,
      É certo resguardava a insipida pessoa
      Adiposa e feliz para cingir a c'rôa,

Poemas São como Vitrais Pintados

Poemas são como vitrais pintados!
Se olharmos da praça para a igreja,
Tudo é escuro e sombrio;
E é assim que o Senhor Burguês os vê.
Ficará agastado? — Que lhe preste!...
E agastado fique toda a vida!

Mas — vamos! — vinde vós cá para dentro,
Saudai a sagrada capela!
De repente tudo é claro de cores:
Súbito brilham histórias e ornatos;
Sente-se um presságio neste esplendor nobre;
Isto, sim, que é pra vós, filhos de Deus!
Edificai-vos, regalai os olhos!

Doce Certeza

Por essa vida fora hás-de adorar
Lindas mulheres, talvez; em ânsia louca,
Em infinito anseio hás de beijar
Estrelas d´ouro fulgindo em muita boca!

Hás de guardar em cofre perfumado
Cabelos d´ouro e risos de mulher,
Muito beijo d´amor apaixonado;
E não te lembrarás de mim sequer...

Hás de tecer uns sonhos delicados...
Hão de por muitos olhos magoados,
Os teus olhos de luz andar imersos!...

Alcool

Guilhotinas, pelouros e castelos
Resvalam longamente em procissão;
Volteiam-me crepúsculos amarelos,
Mordidos, doentios de roxidão.

Batem asas d'auréola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de côr e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Desce-me a alma, sangram-me os sentidos.

Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo -
Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além...

Amor Sem Fruto, Amor Sem Esperança

Amor sem fruto, amor sem esperança
É mais nobre, mais puro,
Que o que, domando a ríspida esquivança,
Jaz dos agrados nas prisões seguro.
Meu leal coração, constante e forte,
Vendo a teu lado acesos,
Flérida ingrata, os ódios, os desprezos,
O rigor, a tristeza, a raiva, a morte,
Forjando contra mim, por ordem tua,
Mil setas venenosas,
Em prémio destas lágrimas saudosas,
Inda assim continua
A abrasar-se em teus olhos... Vis amantes,
Corações inconstantes,
De sórdidas paixões envenenados,

Mas troa a voz do monge, e, emfim, desperto

Mas troa a voz do monge, e, emfim, desperto
O coração bateu. Eia, retumbem
Pelos ecchos do templo os sons dos psalmos,
Que em dia de afflicção ignoto vate
Teceu, banhado em dôr. Talvez foi elle
O primeiro cantor que em varias córdas,
Á sombra das palmeiras da Iduméa,
Soube entoar melodioso um hymno.
Deus inspirava então os trovadores
Do seu povo querido, e a Palestina,
Rica dos meigos dons da natureza,
Tinha o sceptro, tambem, do enthusiasmo.
Virgem o genio ainda, o estro puro

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