Geral

*LUTHERO*

Ah, és tu diabo?...
     (Lenda mouacal)

Luthero, o frade austero e macilento,
Encontrou a Satan dormindo um dia,
N'uma rua d'Erfurt, á ventania,
Envelhecido, calvo e vinolento.

Dorme! gritou-lhe o frade... a teu contento,
Guloso Pae da Indigistão, da Orgia!
Renunciaste as lições de theologia,
Ó velho corvo mau do Firmamento?!

O mundo como tu é calvo e velho;
A Egreja é o lupanar do Evangelho;
E tu ó ébrio, gulotão, descanças!?...

Poveiro

Poveirinhos! meus velhos pescadores!
Na Agoa quizera com vocês morar:
Trazer o lindo gorro de trez cores,
Mestre da lancha _Deixem-nos passar_!

Far-me-ia outro, que os vossos interiores
De ha tantos tempos, devem já estar
Calafetados pelo breu das dores,
Como esses pongos em que andaes no mar!

Ó meu Pae, não ser eu dos poveirinhos!
Não seres tu, para eu o ser, poveiro,
Mail-Irmão do «Senhor de Mattozinhos»!

O Homem e o Mar

Homem livre, o oceano é um espelho fulgente
Que tu sempre hás de amar. No seu dorso agitado,
Como em puro cristal, contemplas, retratado,
Ter íntimo sentir, teu coração ardente.

Gostas de te banhar na tua própria imagem.
Das-lhe beijo até, e , às vezes, teus gemidos
Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos,
As queixas que ele diz em mística linguagem.

LYRA XVII.

Minha Marilia,
Tu enfadada?
Que mão ousada
Perturbar póde
A paz sagrada
Do peito teu?

  Porém que muito
Que irado esteja
O teu semblante
Tambem troveja
O Claro Ceo.

  Eu sei, Marilia,
Que outra Pastora
A toda a hora,
Em toda a parte,
Céga namora
Ao teu Pastor.

  Ha sempre fumo
Aonde ha fogo;
Assim, Marilia,
Ha zelos, logo
Que existe amor.

Em fumo se vai tudo, amigo! Olhando

    Em fumo se vai tudo, amigo! Olhando
    Para as nuvens do céo, nuvens d'aquellas,
    E parece-me ainda que mais bellas,
    Anda a gente fazendo e desmanchando.

    Dá-me uma saudade em me lembrando
    O bello tempo que passei com ellas,
    Por essa immensa abobada de estrellas,
    Por esse mar de fogo viajando...

    Andasse ainda eu lá, que não me havia
    De vêr por estes charcos atolado,
    Onde nem sol nem lua me alumia.

CARTA: _Tendo mandado huma Senhora ao Author Vinho da Madeira com huma Carta em boa Poezia_.

Hum humilde admirador
Da vossa bondade, e estilo,
Beija a Carta precioza,
Que veio honrallo, e instruillo;

Desde hoje, do Mestre Horacio
Minha alma a lição escuza;
Quiz a minha Bemfeitora
Ser tambem a minha Muza;

De fino licor mandastes
A minha cava prover;
A vossa mão generoza
Sabe dar, como escrever;

A' parca meza assentado,
Em Vinho, e Carta pegava;
Hia bebendo, hia lendo,
E tudo me embebedava;

*Boletim militar*

_1814_

      Vae rir-se desdenhosa a sombra de _Pombal_!
      Era doida a rainha. O principe regente
      Ostentando gentil a bochêcha eloquente
      Tinha bom appetite e ventre clerical,

      Mas logo que Junot açaima Portugal
      Embarca a toda a pressa e deixa a nossa gente,
      Panda véla o conduz ao Brasil florescente,
      E rapido imagina um plano theatral.

      Veloz como no monte a trepida gazella,
      É certo resguardava a insipida pessoa
      Adiposa e feliz para cingir a c'rôa,

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