Geral
A Velha Estação do Trem do Tempo
Autor: André Claro on Saturday, 23 December 2017A estação não é a mesma estação sua
não há mais a luz pálida
dos postes de madeira nua
nem aquela tenra teimosia corada
ou esperteza meia-cura
dá até medo, pois parece
que tudo advindo é um presságio
tão rápido o agora perece
quanto um trem ágil
que do descarrilhado futuro já vem embalado
que passa por onde é passado
e vamos ensimesmados tão, tão
só vendo pela janela quimeras
Bruto é
Autor: André Claro on Tuesday, 19 December 2017
Bruto é o sol nas tuas costas,
o desejo sem pronúncia,
o amor sem resposta,
o peso da culpa
bruto é lhe darem as costas,
o seu arrependimento sem renúncia,
a má resposta do amor
sem desculpa alguma.
Pássaros Azulados
Autor: André Claro on Sunday, 17 December 2017
Uma revoada agora me alembra
rodeia de vislumbres minha cabeça
são grandes pássaros azulados
não mais da cor da minha meia
tempinho bom pra vida inteira
um esconde-esconde pelo quarteirão
um futebol de botão
no estrelão de madeira
quem dera que o que tenho de amor
tivesse toda aquela pureza
sem querer que o vermelho da cor
fosse o mesmo da cor vermelha
pois o que era o azul daqueles pássaros
senão recortes no azul celeste
só um condimento pueril e fávaro
no azul do céu, negras silhuetas rupestres
por isso preciso de um bocado
O Cântico e o Pranto
Autor: André Claro on Friday, 15 December 2017
Sempre se exigia um cântico
de alegria ou pureza
nunca se aceitava o pranto
da dor longeva
era fácil agradar a todos
já que suas indumentárias
estampavam uns nos outros
o farto e caricato bonifácio
de verdade mesmo,
nenhuma letra escarlate
ainda mais sob seus toldos
encobrindo suas espertezas
tanto que não tardou
a se popularizar, à revelia,
a castidade, o pudor
e, elementar, a hipocrisia.
Medo de Altura
Autor: André Claro on Wednesday, 13 December 2017
Tenho medo de altura
acho que é por isso que ando
sempre com o pé atrás
vai que eu olhe tudo por cima
vai que me joguem para baixo.
Verso Inconcebível
Autor: André Claro on Tuesday, 12 December 2017
Tento escrever à força a poesia
devaneando paisagens, obituários,
amores fugidios
mas verso algum vem — obrigado!
poesia é um vírus incubado
um ato falho dantesco
onde a rima é outorgada
no momento de maior fraqueza
prolifera-se bolidamente
é um ataque às nossas
maiores resistências
aquele que a concebe
é quase sempre o mais frágil
nem tanto o disciplinado, o exigente
por isso abandono minha Lettera 25
desisto do batente
não depende de minha vontade
nem de minha métrica ou ritmo
métrica!
antes de dormir, me perdoo
Querer-te eu Queria
Autor: André Claro on Sunday, 10 December 2017
Queria te querer
como quem quer nada
só por querer
um querer o outro
sem querer do outro
querendo por querer
é, mas também não quero
querer sem o outro
um querer
o outro sem querer
quero, mas não é que eu queira
querer porque quero
do outro um me querer
isso seria apenas querer que me quisesse
como quem nada quer
— na verdade verdadeira
querer-te eu queria.
Tempo de Vida
Autor: Paulo Fernandes on Saturday, 9 December 2017“Panhadores” De Café
Autor: André Claro on Friday, 8 December 2017Na estrada, à tarde, mais “de” tardezinha, grudando em nossos suados rostos aquela poeirinha fina tão fina quanto agora os nossos ossos que não suportariam mais nada a não ser um filho esperando pra bola