Pensamento

JOGO DA DISSIMULAÇÃO

faz-se silêncio
quando silencia o mundo
ignorando sua sequência
em mim
mundo de irrefutável desdém
pela sua além-ciência
de irrefutável demonstração

faz-se silêncio
quando se admite a manhã
em sua eloquência:
drible da existência
em um jogo de similares opostos
-impostores?

ou seria isso somente uma simulação
se discrepâncias não há
-quem mais haveria de bradar
impropérios
sob o mar das incertezas
e dos critérios?

JOGO DA DISSIMULAÇÃO

faz-se silêncio
quando silencia o mundo
ignorando sua sequência
em mim
mundo de irrefutável desdém
pela sua além-ciência
de irrefutável demonstração

faz-se silêncio
quando se admite a manhã
em sua eloquência:
drible da existência
em um jogo de similares opostos
-impostores?

ou seria isso somente uma simulação
se discrepâncias não há
-quem mais haveria de bradar
impropérios
sob o mar das incertezas
e dos critérios?

Julgamento

Dispostos a nos julgar,
À espreita com dedos,
À esquerda, ofensa vulgar,
Ao meio Deus fitando.
Uma lástima ser assim,
Os santos no estopim
Com o homem caído;
Deixe-o prostrado
No seu ódio largado
E queimado no ímpio.
Seja a diferença, filho,
Brevidade é um logro;
A canção engana,
É uma música profana
Como uma doce lira,
Tocada na raiz da ira.    

lingua portuguesa

LÍNGUA PORTUGUESA
Olavo Bilac
 
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
 
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
 
Amo o teu viço agreste e o teu aroma

O Poeta e o Filósofo

Um filósofo contraditório senta à mesa
Vem um poeta de terno e pede um vinho
Ambos não se conhecem, mas são similares
Um vive de paroxismos por atentar à aporia
O outro gargareja as ideias e cospe no público
Um gosta de varrer as grandes questões para si
O outro, tenta assoprá-la para fora e para dentro

Esperança

Consigo ver onde desperta o sol

Pelos braços queima e passa

A tua luz

E do frio, pouso o meu cachecol

Iluminadas ruas de esperança

Que se despregam finalmente da cruz

Olhem como é tão belo

O que outrora não achara  

A intensidade com que se quebra o gelo

Das lágrimas que secaram na minha cara

O conhecimento da morte

Mas afinal o que é a morte?

Um anjo caído do céu que precisa de forças para voltar a casa?

Uma volta ao mundo sem asas para cortar a respiração?

Uma ferida aberta com sangue inocente nas mãos de uma automutilação?

Da morte não tenho medo,

O que me assusta

É a falta de conhecimento que temos dela…

COMENTÁRIO

 

 

 

Mosaico, de Fernando Antônio Fonseca

 

-by Hilda Cúrcio

 

Poeta Fernando Antônio, ficou bem claro por que foi vencedor deste prêmio — seu mosaico de metáforas é lindo, você se supera a cada vez. E antes, “Para partir o dia”, “o dia em que cheguei para partir/(...) chorei/(...) implorei para partir”, “(...) pois só se chora uma vez assim”, já que “(...) amar é ser desarmado”.

Permanente

Permanentemente a mente mentem

Mentiras permanentes na evidência

Eventual da constante sobrevivência

da humana condição já demente.

 

A mente sabe desmentir à cara podre

a pobreza de raciocínio lógico

abafado pelo eco longínquo

do despertar para combater a hipocrisia

dos cruzadores de braços perpétuos.

 

Caímos na desgraça tão engraçada

de dar graças a seres invisíveis

graças à imaginação exagerada

de um idealismo de seres sensíveis

que tem poderes de cura para a felicidade

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