Pensamento

DESAPEGO

 

 

 

não me apego

ao que não existe

seja som

seja forma

seja cor

seja qualquer atributo

esvaído do fogo morto

 

somente ao lídimo

consiste a certeza

da cinza acomodada

(que meus sentidos

validam)

-vento que se reafirma

após se dispersar

 

 

 

SOMBRA DISSIMULADA

 

 

 

nada se suscita

em um horizonte nublado

 

-seria uma inferência

das coisas inacabadas?

 

-seria uma tese hermética

que não se demonstrou?

 

-seria uma certa abnegação

pelo que não se cogitou?

 

mas o que há

por detrás dessa cortina sem forma

 

é o vago ofegar

de uma sombra dissimulada

 

 

 

 

 

 

 

 

 

NO MOMENTO

 

 

 

sereno acalanto

dádiva da mulher

que me confortará

com as obras do amor

mera minúcia

que me fez recobrar

a trajetória dos ventos

com o desígnio

de confirmar o que sou

-habitante incógnito-

forasteiro nesse lugar

sem dívidas

ou sombra de dúvidas

com apenas este poema

a legar

no momento...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ENTREVEROS

 

 

 

polemiza-se a origem da vida

mas não

sua postergação ou devir

 

polemiza-se a penúria do homem

mas não

seu amplo potencial

 

polemiza-se o êxodo dos pássaros

mas não

sua lição de voo

 

polemiza-se o problema global

mas não

sua intrínseca resolução

 

 

 

Culpa

A Ouroboros dos gatilhos 
retorna ao meu emocional exausto,
estou na cela açoitado por mim,
conjugado e repetível errático,
meus pecados são autofágicos.

E nesta alvura noite decadente
tua brochura leio com dor,
escura e desprezível miséria
contemplando a luz dos vazios;
Não esvanecendo a minha culpa.

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