Prosa Poética

Memórias

São feridas que fluem nas vogais,

minha boca recusa prenunciar-te,

minha língua não aprende a tua.

 

Afogam-me as memórias, talvez,

Repito-me no agora?

Talvez sempre ou talvez nunca.

 

Bebo o grito das Aves,

que abrem mais do que asas no espaço,

embriago-me na liberdade, onde

respiro o Tempo Puro,

que apaga as Memórias.

 

Gila Moreira 11/02/2014

 

 

Fúria

Sou a fúria que teme o principio,

a fissura azul tomada pelo ser,

a revolta marítima em altas ondulações,

foge e deixa o que tomas-te.

 

Se me chamas de despojada

antes de nascer o dia,

eu serei o segredo a fermentar

onde o Amor é Vapor.

 

No claustro do poema em fúria,

cavamos um poço de palavras

para beber o verbo da gramática

sem tempo e sem modo.

 

O Amor desdobra a força…

Mói a dor lentamente da fome infinita,

amo-te somente,

não há voz para isto.

 

Calam – se os ventos,

os voos extinguem-se,

os barcos afundam-se,

a respiração treme antes de aprender o cântico,

nada sobrevive e

O Amor desdobra a força da inércia do corpo.

 

Bebemos,

segredamos no murmúrio do vento ausente,

ferimos o Sol com fábulas de amantes perdidos,

Espera

Nesta atmosfera de carência espero-te,

na saudade,

no sopro de outro texto,

onde as línguas do mar sopram-me.

 

Na espera de hoje não morrerei,

amanhã talvez morrerei melhor,

uma mulher aprende o delírio,

no ventre semeias

e ela espera um filho.

 

Falaremos do tempo que nos espera

e tudo recomeça em outros ventos,

fosse o Sol o mar vermelho,

a Lua a espera,

Tua tormenta

Tua tormenta,

uma boca a dois,

luas,

Sóis de mais sóis,

tudo a florir em afagos de água.

Sede de desejos e a minha vida é uma respiração

Boca – a – boca com o silêncio,

ladeando a tristeza,

a mesma sede de sempre em todas as bocas do corpo.

 

Gila Moreira 14/01/2014

Tu

Posso nascer e morrer na mesma noite,

mas tu nunca morrerás,

posso nascer e morrer na mesma fuga,

mas tu permanecerás sempre,

posso nascer e morrer na cega chama,

mas tu serás sempre a chama viva,

posso nascer e morrer no beijo sem bússola,

mas tu serás, hoje e amanhã o meu mapa,

posso nascer e morrer nos sentidos contrários,

mas tu serás o caminho único,

posso nascer e morrer em mim,

Sismos de silêncio

O Amor é inquietude do silêncio

em pleno voo que diz: não adormeças nunca,

sou o Tempo Puro,

a certeza das moléculas de fogo vermelho

que correm mais dentro que o sangue.

 

Todos os meandros do fogo com seus

sismos de silêncio ensinam a florir,

até os dedos de água que passam no vácuo

banham – se no fogo.

 

Hoje Amor,

digo - te  que a paixão são ondas efémeras,

sísmicas do silêncio,

Temperatura do Silêncio

Temperatura do Silêncio

 

Sangro no beijo todo outro nada,

Outro tanto em nada é Tudo.

Somos vento em tempestade de corpos quentes,

onde o teu silêncio põe temperatura.

 

Sopramos desde do fundo ao sopro da montanha,

os rios quebram o seu curso de água e

novos símbolos de incêndio sangram nos lábios.

Sei que foges contra a noite para melhor dormir,

mas,

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