Prosa Poética

Fome do tempo

A Oeste segue-me deleitosa
 
e vigilante
 
a vida transbordando de assédios
 
segurando a tirania do tempo
 
que me vence,veloz
 
devastando qualquer rota
 
onde caminho inseguro
 
rumo à eternidade
 
em trilhas magnificas
 
de silêncios evocados num lamento
 
que nem mais me conforta
 
 

O momento

Quero servir-te poesia
 
sediar-me em ti
 
em cada  momento
 
deliciar-te desvairado
 
onde simplesmente os dois
 
acontecemos extemporaneamente
 
 
E foi quando rasgando risadas
 
pautámos cada relíquia de tempo
 
num perplexo poema
 
assim disponível
 
neste electrizante dilema
 

Nossos silêncios...

Que venhas hoje
 
liberta
 
em brasas reerguendo
 
mares e ondas na pureza
 
estival dos nossos anseios
 
 
 
que venhas sóbria
 
libertando quimeras ancestrais
 
onde encontro a eternidade
 
plangente de toda a harmonia
 
que desagua aconchegada entre
 
nossos luares enamorados
 

Dá-me vida...

Dá-me vida
 
Que grata ironia
destapo as frestas
onde cabem integralmente
a grafia totalitária
dos meus selectos pensamentos
e lá descubro tua imensidão
recostada no consolo dos rabiscos
digitalizados onde afagas
discreta nossa tímida afeição
 
Minha consolação?
Já nem sei se me escondo
ou não em tamanha amnistia 
pois serei daqui para a frente
imponderável,

Porque morre o tempo...

Porque morre o tempo...
 
Se na maré a seguir 
tão sózinho me perder
e mesmo assim
em teus rios me deixares aportar
dando-me a rota na qual devo
ou não afluir
então
nosso amor mostrará 
quais os caminho por nós
apossados e maquilhados
na pareceria apaixonada
de dois seres nunca decepcionados
 
Eu estarei sempre 
ali onde todos me quiserem

Nau de Èbano

 Nau de ébano

 

 

Tive uma vida ...

... Intensa ... errática ...

Fui vagabundo ... vadio ... viajante...

Viajei meio mundo ...

e invejei os que viajaram o outro meio

Parti numa nau de ébano

e na minha mente permanecem  aromas indeléveis

aromas de especiarias ...  rostos e etnias

... Uma mulher de veste negra

não me deixou admirar a beleza

Que linda é a beleza do seu caminhar... pela areia do deserto

- Se calhar eras tu!!!

 

 

Ardemos

 

 - Ardemos –

Inspira e expira o plasma do fogo

do amanhecer em pele nua de mim.

A tua boca na minha boca

expira o desejo do fundo das cinzas

da paixão tatuadas no peito roto do coração.

Lanço a flecha invisível do delírio,

os claustros dos raios solarengos que

ofuscam em mim a sombra,

os devaneios e os vícios.

Come-me,

bebe-me o livro que abro em minha alma

que prossegue a mesma inquietude.

A loucura é o jardim que floresce

em aguarela de cores ,

BRASAS AO CHÃO

EU SOU O VENTO,

QUE PASSA LIGEIRO...

SOU SEU DESESPERO...

SORRISO MATREIRO...

 

SOU BRISA...

EM DIA DE SOL!

SOU FOGO A QUEIMAR,

SEU CORAÇÃO.

 

SOU FURACÃO,

QUANDO CHEGO DEPRESSA.

E SAIO.

DEIXANDO-O NA MÃO.

 

SOU FURIA LOUCA! 

QUANDO BEIJO NA BOCA...

CICLONE VIRAMOS.

JUNTOS SOMOS PAIXÃO!

 

NO MEIO DA FÚRIA...

O FOGO ACONTECE.

E QUANDO TUDO SE ACABA!

AINDA RESTAM AS BRASAS...

ROLANDO AO CHÃO

ARLETE KLENS

Entre a Janela e a Porta

Entre a janela e a porta, mais de vinte e três anos se passaram. Anos de cigarro e vento, de insônia e prazer, quase nada sem arrependimento. Cada passo entre a porta à janela agora é mais fácil. Já fui mais fechado ao azul e ao violáceo. Outra janela, essa outra mais cheia de vida, tantas e tantas vezes pesou nos olhos a vontade da fantasia. Entre a janela e a porta, só o longe é possível. Estar entre a janela e a porta é usar os detalhes para preservar a miudeza da minha feiura irreparável. Vinte e três passos contidos. 

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