Soneto

A sinfonia última

Corda do celo rasga a nota,
do último trágico som,
mortal à alma já quase morta.
Mitigado no penumbre bom.

Fúnebre adágio nos ouvidos
é o turíbulo que pendula lembrança.
Nostalgia de dias anímicos,
marcados com pureza de criança.

Luctíssono é sensível ao toque.
Do garoto colérico ao austero sujeito,
escuro mundo de sentimento fechado.

Espelho manchado de desfoque,
é o reflexo penoso do homem afeito.
Sinfonia lamentosa do ser apartado.

 

Renascer

"Longa e fatigante é a senda ante ti, ó discípulo."
BLAVATSKY, Helena "A Voz do Silêncio", 1998, edição 494, tradução de Fernando Pessoa, Assírio & Alvim

No hiemal liame a Nix e Érebo, injucundo,
Estertora num búzio um mesto alburno
Num tal dédalo impérvio e taciturno,
Que plange Undina (1) em terra, contrafundo.

Mas "Deixa a dor nas aras"(2), sitibundo,
Pélago de Chopin num seu nocturno,
Prorrompe-lhe uma Lilith, lio diuturno, 
Transubstancia as Euménides segundo 

O seu tempo

Um advento e seu nítido fim manifesto
O tempo escalpelou o rei menino, tão apaixonado!
Menino do seu mundo foi principal, hoje modesto
Foi criador, criatura de um mundo por Deus ofertado

Saudades não da calmaria, nem do inverno no divã
Algum cientista invente a tão sonhada máquina do tempo
Anos 80, descer a ladeira de rolimã da madeira cachimã
Faltou um jogo com a outra rua, com raça, nosso passatempo

Soneto ao Anjo de Grief

Os anjos da noite adormecem em tristezas
Da conformidade das pequenas criaturas
Em trazer nascituros às suas impurezas
As folhas dos túmulos jazem em brumas

Alogia da natureza no arvorecer do luto
O funeral da carne é célebre por dor
Perpétua lágrima escorre de mais um viúvo
Sua amada perece no puro amargor

Homenagem a ela acorda do soporífero sono os senhores
Em suas monotonias eles se impressionam com a obra
O toque de perfeição é finalizado pelos dedos de fulgor

A flor do mundo

Certeza de fidelidade
Como o fogo e sua fiel chama
Dentro do coração a lealdade
Do mortal e sua fria fama

Mulher nobre criatura, bela flor
Uma só carne, feliz homem, a abrigou
Doces lábios têm um sublime sabor
O Criador que com grande poder criou

Beleza estonteante e atos de humildade
Obra prima, torre forte de espiritualidade
Musa benfazeja como flor de alecrim

Olhos que caminham com olhar santo
Não derrame sobre mim um triste canto
Pois será do homem pecador, tristeza fim.

Algo na vida

Algo na vida sem flores me deixa desejoso
Nunca será a maior pepita de ouro encontrar
Nem toda a fortuna e luxo em uma vida esbanjar
É ver acabar a miséria que torna o jardim espinhoso

A algo na vida que me entristece intensamente
Levo a vida calado, morreu mais um
Morreram muitos outros, como se fosse comum
Não conseguiram suprir a fome infelizmente

Algo na vida que sei que é bela e ainda me seduz
Ter asas e como um raio os continentes visitar
Conhecer outros povos , e saber que a igualdade permeia

Epifania

"Brilho noturno de noite alheia vagando entorno à Terra"
PARMÉNIDES, "Sobre a Natureza" Fragmento 14, entre 490 a.C. e 475 a.C.
 
 
 
Nimba em Serendip (1), ainda que em Otranto (2),
Êxule o transe de Hamelin e flauta (3)
Obducta, já o revérbero se pauta
P'lo Caminho da Mão Direita (4) enquanto
 
Alvorece um Período Edo (5) num canto
Feérico, numa lira sonial, nauta
Do empíreo, do latíbulo, aura incauta  

Pequeno mundo

Na elaboração consequente de amar
Se o fino trato não se faz comovente
Dor que não se aceita realmente
indigna morada pode atormentar

Toda insensatez vem deste pequeno mundo
E todo descuido ao jardim de flores robusto
Ao leal grande amor, construirei um busto
Foi a união de Adão e Eva infecundo?

Na vida sem amor à Deus, absorto caminhar !
Rio que com suas aguas inunda
As puras mentes humanas à naufragar

Não se cale no peito a voz o sonhar
Amor que não se espera abraçar
Insensatez do mundo cruel à pecar.

Felicidade

O que é dito não pode ser escrito
Porque ainda não alcança o coração .
No que insisto e ainda acredito
Um mundo desprovido de escuridão .

Receita caseira de todo bom ancestral
Reza na cartilha vermelha da capa preta, aprender
que durante a vida inteira, faz crescer todo mortal
Deveríamos a vida das pessoas, as surpreender

Tratar com humildade e amor seja quem for
Deus sabe nosso limite de santidade
Basta se desviar de demônios da maldade

Desancorada

Finda a "Aproximação a Almotásin"(1), ido
Schwob (2), em reboo entrechado, até ao uno plúrimo
Silente, resilido o insueto ermo ânimo,
O "Tabor" (3) é pretérito escandido.

Se nem Gilgamesh (4) ou Átila em sonido
Ou o libente Enkidu(4), em Graça cadimo,
Guarem; langue a estese, ade à tundra e ao limo,
Exsica a phýsis, nada solfa ou é ungido.

E à plaga nucleal não ressuma um pidgin
Antes se plica ao entalhe e à orbe comum.
A Levin (5) o que reme bui em carmim.

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