Soneto

“Cheguei Tardio”

No rosto cultivo, marcas que a vida disse;

Leitos húmidos, d’amor em águas puras

- Mas porquê, em tal rosto, cor tão triste?

- É o tempo, ó dor, que muito curas…

 

Choro sim, ainda, as lágrimas que chorei

Lavrando mais fundo, a causa, ou razão

Dos cem anos que não nasci, tarde cheguei

Para te abraçar, dos lábios ao coração...

 

Pois que cheguei, tarde, para te ver

Mais tarde, na tarde que te fui conhecer

E em teus braços abertos, choro essa dor

 

Cheguei tardio, a beijos incertos

Lâminas por Pétalas

Encapeladas lâminas girando
A toda a minha volta. Fluxo flébil
Hiante de outrora, afã consumpto estéril
Duma ausência afinal presente, instando

Júbilo da verdade revelada,
Novamente impassível ao rolar
do Tempo. Conjugado o verbo amar,
Presente sempiterno, visitada

Inopinadamente, no acro em mim.
Abaluarta-me a essência tua atinente,
De pétalas de mil cores sem fim.

Lépido, trocas lâminas cortantes
Pela hossana de pétalas enfim
Até ao diedro feliz d'eternamente.

Alma Perdida

ALMA PERDIDA

Alma perdida é apenas uma sombra que flutua
Ligada em pecado no materialismo de outra geração
Hospedeira de um corpo, numa vida que não é a tua
Procuras o perdão, nos dias imaculados da redenção.

Nos âmbitos da lenta evolução, que tens vivido
Padecendo sem luz, no universo do teu mundo
Despertando em ti, horríveis instintos sem sentido
E uma mão cheia de nada, num pavor profundo.

Sagres

SAGRES

Nesta terra diferente de mar profundo, onde os mitos outrora foram vencidos
Declamo o poema a este povo coberto pelo rumor e pelo sal do seu mar
Circundado por escarpas e ventos fortes, que sopram em todos os sentidos
Sigo na saga de rumos desconhecidos, inspirado na magia intemporal do ar.

Interrogação

INTERROGAÇÃO

Tu que já foste astrónomo e alquimista
Tu que voas nas quatro faces do vento e percorres o firmamento
Tu que tens a chama do saber e movo-te a curiosidade de cientista
Tu que procuras nos astros, uma nova ordem, um novo chamamento.

Tu que pretendes ser levado pelos grandes ventos da pura aspiração
Tu que queres ver uma Boa Nova e fundires-te nela cintilante
Tu que leis as constelações e queres saber a sua composição
Tu que olhas o universo não decifrado, como uma sombra só e delirante.

Amnésia

AMNÉSIA

Tu sabes e não falas, não dizes quem eu sou
Vagueio como um cão que não tem dono
Percorro o meu destino, sem saber para onde vou
Como uma folha que erra, no vento do Outono.

Sou um ente esquecido, uma amnésia da vida
Nesta alma errante, para quem nada importa
Apenas tenho silêncio, na memória esquecida
E a rua como morada. Uma parede nua, sem porta.

Espaçadamente, baila na mente uma imagem nublada
De vertigens de beijos sôfregos, de quem foi amado
E uns olhos iluminados, na palidez de uma cara extasiada.

Lágrimas

LÁGRIMAS

No céu azul dos teus olhos, correm nuvens de tempestade
Nascidas no coração em dor, sopradas pelo vento do momento
Lágrimas, solidamente agrilhoadas aos ferros corroídos da saudade
Tardam a apagar o fogo, que ateia a desilusão e incendeia o sentimento.

Lágrimas que correm sem cadência, no leito do rio da demência
Num percurso de escolhos, para além do nada, onde mora a eternidade
Desaguam intempestivamente, no oceano insondável da existência
Onde a vida tem danos, entre tantos enganos, na procura da felicidade.

RECORDAÇÃO

RECORDAÇÃO

Nesta água da verdade, tão distantes estão os anos
Que me salvaste do abismo e de emoções tenebrosas
Recolhendo no teu regaço as lágrimas de muitos danos
Brotadas por tantos enganos e suavizados por rosas.

Refletido nesta água vê o teu rosto ardente
Vejo o teu olhar sereno, no pedido que me fizeste
Comissura nos teus lábios, que sorriam docemente
No adeus permanente, do ultimo beijo que me deste.

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