Soneto

Vieram ao Ló, os anjos do Deus de Abraão,
Anunciando o fim de Sodoma e Gomorra;
Disseram-o: pegue teus pertences e corra,
Do Céu, cairá fogo de enxofre até este chão.

Não te vires e vá naquela montanhosa região,
Acabaria Deus, das duas cidades toda zorra,
Apressa-te, que o revés vem sobre está terra;
E viu Abraão uma fumaça como de calcinação.

Estava Ló em Zoar e foi para as montanhas,
Transformada em coluna de sal, pelo caminho,
Ficou a esposa de Ló no instante que se virou.

Não Faz-sé Um Homem Com Devaneio

Assim como meu sorriso ausente,
Tem sido para mim teu ventre belo;
Fora, olhos meus estão; vieram vê-lo,
Cansado estou, de tocar-te distante.

Antes co'as mãos agora co'a mente,
Toco teu corpo ausente neste flagelo;
Sendo a única forma que sei senti-lo,
Pois, só o além toca estrela cadente.

Rasgue o teu mundo e dê-me o meio
Deste todo teu que jamais foi meu
Mais sofrimento tive do que tê-la

Não sou para desamores, um museu
Do meu coração, estou desampara-la
Não faz-sé um homem com devaneio

Meus Céus

Meus céus
Fez Deus
Para ateus
Co'teus Véus

Raios troféus
São todos seus
Não do Zeus
E seus escarcéus

Escaldante sol
Dias girassol
Feito foi para ti

Meu amor não briol
No sóbrio lençol
É apenas para ti

Pertence-te as terras
E tudo que faz eu
Até nossas guerras

António Vicente Aposiopese

Adultério

Mão-aberta de coisa nenhuma

E fechada: cheia de mistérios…

Afinal, adultérios!

E que trauma.

 

Mão-aberta e mão-cheia de tudo,

Desassossega o teu querer

Desassossega o esforço e o enaltecer

Para quê ficar mudo?

 

Se teus passos se ouvem ao longe

Devagarinho que vás, e por diante

Atropelos à minha mente, terás.

 

Fica, morde ou range…

Quero-te infiel, galante…

 - Desaparece daqui ó Satanás!

Pecados Meus Que Não Confessei

Pecados Meus Que Não Confessei

Pecados meus que não confessei,
forçado fui eu a cometer-vos tanto;
agora vos deixo à este relento,
cansado estou do tanto que pequei.

Vos que pelos desejos me ofertei,
desejo da carne que pago no pranto;
não mais quero este pecado manto,
despi-vos porque má fama ganhei.

Alma minha que antes era santa,
poluiram-a seduzindo meus olhos;
mostrando-lhe os teus feitiços.

Nem que chouva água benta,
condenado estou e colho-os;
voltar, quero tanto aos começos.

É O Amor Recíproco

É O Amor Recíproco

Quanto mais dou-vos
Mais querer tendem
Porquê não entendem
Também quero de vós...

Um de mim nos esgotos
Outros para vós erguem
Apenas peço: conservem
Não é eterno o meu e de vós...

Se amor é recíproco
Igual não é possível
Dêem pouco de vós...

Dizem ser muito pouco ?!
Mas sentem. "É invisível"
O verdadeiro quero de vós...

António Vicente Aposiopese

Foi à terra

Mares de ventos disseram...
Aos pés do coração do meu...
Caminhas descalça de véu...
Teus céus p'ra mim desceram

Saudades de ti ofereceram... !
Trouxeram aquele seu...
Areia, porquê chamais-me réu ?
Foi à terra que no... a levaram !

Dizei-me cantos das ondas
Leve e terno nesta orquestra
Então com qual de vós... ?!

Embora bebem águas Kiandas
Meus... ! não quer ser d'outra
Sem ti aonde buscarei nós... ?!

António Vicente Aposiopese

06/13

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