Inveja ( A linda árvore de Natal em V. do Castelo)
Autor: Milena Dias on Sunday, 30 March 2014A nossa famosa árvore de natal, em Viana do Castelo.
A nossa famosa árvore de natal, em Viana do Castelo.
Em meu palácio brilha uma chama
No silêncio da minha janela passa o vento
Que por teu doce nome clama…
Oh, que turbulento!
Em meus aposentos de ternura te invento
Sobre lençóis dourados, na minha cama
Onde a vela da fantasia derrete como num convento
E um Deus belo beija uma Dama!
Pelos trilhos silenciosos do encanto
Tropeço nas pedras rubras de um desejo
Enquanto a Fénix renascendo revejo…
Fevereiro em Viana do Castelo
HERÓIS ESQUECIDOS
Não vos louvo tão bem como queria.
Soldado, refugiado, bombeiro...
Heróis dos tempos e de cada dia,
Dais-vos em cada luta por inteiro.
Sois vós, heróis valentes e incógnitos,
De corpo a pedir-vos quietação,
Já doridos, suados e aflitos,
Persistis...com vigor , dedicação !
Nos, absortos em nosso comodismo,
Tantas vezes ingratos, insensíveis
Vivemos...e seguimos impassíveis.
E eu hoje esqueci meu egoísmo
Se eu fosse uma borboleta Azul
Poisaria em teus verdes campos
Brilhando como pirilampos...
Voaria rumo ao teu charmoso Sul!
Se eu fosse um selvagem Rio
Correria em tuas margens profundas
Plantando papoilas perfumadas
E em tua chama derreteria todo o meu frio!
Se eu fosse um Cometa no teu Universo
Deitaria minha cauda sobre tuas nuvens de cetim
E contigo viajaria à Lua numa caravela de marfim!
Se eu fosse no teu poema um Verso
E na tua caneta a tinta Azul
Na tua senda seria um caloroso Percurso!
Vês-me, tal como eu sou, velho e usado,
Já não me dás valor nem atenção,
As rugas, as brancas e a lentidão
Afastam-te deste barco encalhado.
Isolaste-me da tua sociedade,
Sem eu ser assassino nem ladrão
Enclausuraste-me nesta prisão,
Lixeira de cadáveres adiados.
Também eu já tive a tua juventude,
Também esse teu mundo já foi meu
E eu, por ele, fiz o melhor que pude.
Ajuda quem ainda não faleceu,
Lembra-te que eu fui jovem como tu
E que tu serás idoso como eu!
Alvorecer
Alvorecer místico ! Só em contos !
O sol desponta entre a bruma d' aurora.
Resplandece entre contornos dos montes,
Vai trazendo o calor...que já demora !...
Eleva-se devagar, rumo ao céu !
Rouba as trevas, escuridão, o breu.
Lança seus raios e à terra os conduz,
Abraça os girassóis que pedem luz.
É esta natureza infindável,
De secreto segredo,insondável,
Qu' afiança a minha fragilidade !...
E eu hei-de partir, contrariada !...
INSTANTE
Há um sopro de vida a cada instante.
Num ato de amor se cria uma vida !
Mas, um só instante é já o bastante,
Para que a vida esteja de partida.
Infância... Passageira...um instante...
Juventude...Que se vive de fugida.
Brota...logo se escoa, estonteante...
Na curva, já se vê o fim à vida.
Instante ! O mundo é devastação !
Inventa-se guerra...se ela convém !
Instante ! É dor...é a desolação !
Estamos bem. Plenos de inspiração !...
Agonia
Insisto no poema, que contudo se emudece,
Cala-se no tempo que passa,
O estro, antes vivo, derrotado fenece
Num estretor óbvio que fracassa
A agonia é provocada pelo quotidiano real,
E nem invocando musas ou o passado
Se aguenta a composição escrita, afinal,
Jazendo esmagada, do acosso azarado
Salvar-se...o improviso a teimar...
Na luta contra os espinhos do concreto,
Nesta flor que se quer eternizar
Descalça caminho na praia da fantasia
Divagando ao sabor das ondas do desejo
Completamente entregue a elas, embatendo na falésia
Suspirando por noticias como do farol o lampejo.
Olho o céu azul e nada vejo
Mas tudo existe, além do vazio horizonte
A Lua nua dança num festejo
E o Sol desce a poente...
O vento sopra sereno como bocejo
As nuvens desenham um azulejo
E as gaivotas poisam na areia com cortesia!
Marinheiros desfilam em cortejo
Sereias cantam em solfejo
Nas madrugadas frias de maresia...