Soneto

DANDO UM TEMPO AO TEMPO

 
 
Estou dando um tempo à emoção
Olhar incerto olhando a paisagem
Longe dos olhos perto do coração
Fiquei sem Norte e sem bagagem
 
Andava sem rumo, sem ter opção
E nada que fizesse ia valer à pena
Quando perece o amor e a ilusão
Não se pode ter a mente serena
 
Vou dar um tempo ao sentimento
Limpar as gavetas, sótãos e porões

“Terra”

 

 

 

Terra nos olhos, da boca chega-me aos ouvidos;

Terra nos pés, das pernas ao coração…

Só não tenho a ti, ò amada dos meus sentidos;

Tão presos a mim, em correntes de solidão…

 

Terra! Terra mastigada até ao meu peito,

Como se fosses o horizonte de todas as angustias;

Saudade

Na sombra da árvore da saudade
Repousam todos os espíritos em agonia
Sob o frio estridente da realidade
Deste mundo cego de tirania!

A saudade tem o cheiro da flor de begónia
E as entranhas de uma majestosa cidade
Lugar onde se passeia como na Babilónia
De mãos dadas com a ingenuidade…

Nos bosques perdidos da ironia
Onde a saudade alcança a imortalidade
Choram todas as divindades em cerimónia.

ANJO DE RESGATE

Em um dia iluminado, eu te vi chegar
Acendi um sorriso em doce adoração
Adivinhei que virias para me resgatar
Algo indescritível agitou meu coração

Eu tive a impressão que já te conhecia
Então, começava a viver intensamente
Quando pensei que nada de amor sabia
Quiseste-me envolver completamente...

Caminhei por sobre nuvens de algodão
E andei sobre as águas do azul do mar
Uni as minhas mãos às tuas em oração

Soneto de um jovem triste

 

Soneto de um jovem triste

 

Andava na rua tristemente

Pensava em um amor perdido em fim

Por uma quimera fiquei assim

Com o pensamento pouco ausente.

 

Dor que enleava minha mente

Foi a mesma que brotou em meu jardim

Por pouco quase me perdi de mim

Vivo cá no meu mundo pungente.

 

Que pena de mim sem querer sofrer

Indo atrás da alegria sofri

Hoje sinto falta do meu querer.

 

Lembro-me de tudo que eu vivi

Ao teu lado sempre sonhei em ter

Cantiga de passarinho

Cantiga de passarinho

Toda tarde a passarada se agita a cantarolar

É quando ela passa pra aquela estrada enfeitar

Canta pintasilva, canta rouxinou e canta uirapuru

Nada perturba a passarada que vem ver ela passar

A admiram tanto que seu caminhar vêm sonorizar

Cada um na sua cantiga pra sua tarde sonorizar

Era tanta canção passarinheira só pra ela escutar

Fazendo daquelas tardes sonoras pro seu coração apaixonar

 

Charles Silva

Adeus

 

Faço o meu silêncio de sua ausência

E me calo perante sua distância

Pois, dos sonhos retirei a lembrança

Do amor que quase me pôs à falência.

 

Do sentimento tão lindo, a crença

Da eternidade e a má-aventurança

Do crédito na falsa aparência

Que, da solidez, perdeu a segurança.

 

Do infinito, resta só a saudade,

(Suas palavras ofuscaram o brilho

Da fantasia que era a nossa verdade).

 

Só os cacos de um coração andarilho

Doído, triste, errante e sem auxílio

Soneto da Modernidade

 

O mundo gira, a vida passa e a gente anda

Gira, anda, passa porque nada é eterno

Se hoje uma flor caiu porque é inverno

Amanhã, na primavera, volta a uma ciranda.

 

Em cada passo dado, uma canção que se canta

Em cada canção nasce um novo ser interno

Que, se exposto com todo o grande amor paterno

Se recicla e retorna de forma mais branda

 

Em cada tempo e cada era uma história

Feia ou bonita, só expressa a verdade

Que se repete sempre nessa trajetória

 

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