Soneto

A TRAIÇÃO DO TEMPO

 

A TRAIÇÃO DO TEMPO

 

Voaram segundos, minutos e horas;

Dias, semanas e meses galoparam

E os invisíveis anos abalaram...

Enfim, a minha vida foi embora!

 

O tempo partiu e nada tenho agora...

Por tudo o que meus olhos amaram,

Por aquilo que eles não observaram

E jamais verão, a minha alma chora!

 

Lamento não ter feito quase nada,

Quando o tempo ainda vivia comigo

E a querida vida era a minha amada!

 

Agora que o tempo fugiu com a vida,

Barco Encalhado

Vês-me, tal como eu sou, velho e usado,

Já não me dás valor nem atenção,

As rugas, as brancas e a lentidão

Afastam-te deste barco encalhado.

 

Isolaste-me da tua sociedade,

Sem eu ser assassino nem ladrão

Enclausuraste-me nesta prisão,

Lixeira de cadáveres adiados.

 

Também eu já tive a tua juventude,

Também esse teu  mundo já foi meu

E eu, por ele, fiz o melhor que pude.

 

Ajuda quem ainda não faleceu,

Lembra-te de que fui jovem como tu

E que tu serás idoso como eu!

MESMO AMOR

 

 

MESMO AMOR.

 

Inda uma vez vou te dizer: Repara

Nos meus versos ! São bem a nossa historia...

Cada estrofe retrata a trajetória

D!um amor que ( hoje sei) foi coisa rara!

 

Não sei de ti, quanto a mim,  já notara

Que  (desde sempre)  da minha memoria,

Teus beijos, teus abraços, toda a glória

MISTERIOSO OLHAR

 

Parei pra ver teus olhos,  um tesouro em  par! 
Ai  de mim! Por que fiz tamanha insensatez?
Esmeraldas lapidadas de raro jaez
Que o bardo  (em segredo) se pôs  a admirar!
 
Pedras raras ofuscando o brilho do luar;
Imenso  oceano, floresta virgem ou  talvez
Tela no infinito pintada   em tua tez
Com o verde do mar, céu azul e luz solar!
 
Olhos que ( entretanto) são  prenhes  de mistério:
Dizem tudo e nada  dizem , transcendem em prece
E ao mesmo tempo  inspiram amor deletério...
 
Misterioso amor  que veio sem  avisar,
(Ainda que jamais  o bardo tanto  confesse)
Do secreto verde-oliva deste teu  olhar!
 

Nelson de Medeiros

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CANTOR

De teu peito fremente qual vulcão feroz,
Emergem mansamente tuas cruas mágoas...
À tarde, do arroio quando se escuta as águas,
Vem a lembrança de tua branda voz.

Amas brincar c`os sons, amas a melodia,
Povoar os refúgios dos gentis ouvidos.
Teu cantar se compara aos matinais gemidos
Que o pássaro sobre o arvoredo preludia.

Em teus lábios lhanos de alegria os sinais
Nos saraus espalham-se como uma cascata;
Aos suspiros de Orfeu soturno são iguais.

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