Tristeza

Lamento do Entardecer

LAMENTO DO ENTARDECER

Uma lágrima escorre por dentro

Lavando a amargura de todas as ausências.

Do Amor, do prazer, da alegria.

Da falta de uma vida inteira.

Este modo de esmorecer lentamente

Tem a medida dos silêncios Das falsas tranquilidades Dos bons comportamentos

Do enganador verniz brilhante.

Apagam-se as luzes da ribalta. Perdem-se as cores.

Ficam as memórias a preto e branco, e alguns entusiasmos intermitentes.

Há um frio gélido nas mãos

Um brilho de água nos olhos

Um dia serei a Antártida

Quero dormir na Antártida
Esconder caimbras e assaduras
Tornando um apátrida
Em livros sem ranhuras
 
Não me movo, não prejudico
Escrevo sem ser profeta
Ouço a vida e calo o bico
Sem ter mensagem secreta
 
Não destruindo passo a criar
Está frio mas quero a Antártida
Para as lágrimas congelar
E aceitar-me sendo a sátira
 
Progresso torna-nos presos
Eu sou árvore e montanha

Adeus

Adeus

 

Chegaste.

Mal te vi, corri para os teus braços.

Abraçamo-nos, Beijamo-nos.

Num movimento inseguro, saí dos teus braços,

E afastei-me.

Tímido.

Sentamo-nos no sofá.

Eu encostado, tu inclinado para a frente.

Silêncio...

Olhaste para mim. Sorriste.

Silêncio...

Perguntaste-me como estava. Disse que bem.

Retribuí a pergunta. Respondeste o mesmo.

Silêncio...

Começaste a contar o teu dia-a-dia.

Não tinha interesse, mas a forma como o contavas,

tornava-o belo.

Tu

Tu

 

 

O Verão acabou em ti.

Em mim começou o Inverno,

E exponho o meu corpo para o norte.

 

Da magia e esplendor da Primavera apenas restam memórias sem cor.

 

E escorre chuva nas paredes do meu coração...

 

Foste a música dos meus sentidos e agora só o silêncio se ouve.

Os ecos? Esses partiram há muito.

 

E há uma solidão imensa neste meu jardim abandonado.

Porque em minha casa, depois do festim, restam apenas ossos e copos partidos.

Este poema é tão triste

Este poema é tão triste,

Que o escrevo a chorar.

Até a felicidade desiste,

De me querer alegrar.

 

Este poema é tão triste,

Nem sabem porquê.

O poeta só existe,

Quando alguém o lê.

 

Este poema é tão triste,

Porque nunca foi amado.

O pouco que resiste,

Noutros poemas que tu viste,

Foi tudo inventado.

 

Este poema é tão triste,

Ao revelar honestidade.

O amor que sentiste,

Nunca o senti de verdade.

 

Este poema é tão triste,

Primavera

Hoje sonhei com uma quimera.

As cores da morte são nuas como minha alma.

O som que ecoa só pode ser sentido em minha pele.

Todos os olhares condolentes me matam junto com quem se foi.

 

Eu preciso de um lugar para me ajoelhar.

Eu quero voltar a ser pequeno,

Tão quanto as flores ao redor do seu túmulo.

Eu tenho medo do meu nome.

O vento sussurra nomes estranhos

Ventos do Norte

Todas as músicas já foram tocadas.

Nada levo além do que os principais acordes.

Sou minha própria música.

Reverbero-me, ouço-me, toco-me.

Inevitáveis óperas pelo céu estrelado;

São tão eternas quanto o passado.

 

Tudo aquilo que as horas fundaram dentro dos meus alicerces.

A solidão em mim só existe porque o destino não me deixou sozinho. 

SOLIDÃO DE SONHOS

A solidão é deixada na brisa do outono
Com tantos beijos já perdidos no verão
Nas manhãs tão quentes de breves sigilos

Monólogos da nossa imensidão da noite
No progresso talvez incontrolável do dia
Onde o silêncio, o espaço declaram guerra

Quando os sonhos contemplam a velha lua
De desejos, das estrelas que brilham nos olhos
No despir dos sentidos ao encontro dos meus

Cobrem o chão, a cama com pétalas brancas
Rosas plantadas por mim do nosso belo jardim
Solidão de sonhos, nos beijos perdidos de verão.

Deixo passarem as horas aguardando a remissão

 
 
Por vezes tento dissimilar,
não posso esconder a dor.
Agradar a alma inquieta
apenas com lembranças,
emoções evanescentes
ainda que na memória recentes,
dos últimos acontecimentos.
 
Insone, 
esperando nascer o sol,
aguardando na aurora carmesim 
um ramo de oliveira,
mantendo a alma ansiosa. 
 
Como a chuva que lá fora
tamborila sobre as vidraças,

Pages