Tristeza

...

Crianças dormindo nas ruas,
Pais drogados e bêbados
Pessoas implorando por um pedaço de pão...
Pessoas sentadas nos cantos quase morrendo,
Crianças passando fome e medo.
Pais espancando os próprios filhos
Jovens se drogando...
Quando isso irá acabar?

Terras Minhas Que Não Me Vistes Crescer

Terras minha que não me vistes crescer,
Arrancado dos teus braços me vistes trovar;
O vagido do meu sublime desflorecer;
Quando sábia alma, eles vieram cativar !

Ainda vivo estou, mas tanto a padecer.
O quê resta-me, senão arte minha elevar ?
Tudo, até que não devia me oferecer,
Fê-lo a vida até mais fundo dor cravar !

Lutei, relutei; agora resta-me ceder,
A dor que mais à alma me vem cavar;
Até já se foi luz do meu amanhecer,
A mesma que ninguém soube estorvar,
Este último verso trouxe o meu perecer !

NO PEDESTAL DA TRISTEZA

O corpo já cansado
De tanta incerteza
De tanta inquietação…
Jaz ferido…
No pedestal da tristeza
Despojado de beleza
Onde impera a frustração.
 
Nas margens deste rio triste...
Onde as águas pestilentas
Infestam o seu caudal...
O meu coração vagueia
Nesta desconcertante teia
Nesta dor descomunal.
 
Há um vazio que se instala
Um grito que então se cala

Eu !

Nada mais que Eu !
Eu ! O verso da guerra !
Escrito com sangue meu,
Que mancha esta terra;
Tenho Sião sem véu,
Caminhando livre nesta masmorra;
Nada Eu, sou por acaso,
Não chamem meu fôlego de poeta
Só Eu ! Quase chulo e proxoneta
Das letras, versos e caneta
O Elegiado que deixou Cacuso !

António Vicente Aposiopese

Há dores

Há dores que vejo,
Atordoar meu coração;
Embora almejo,
Ter toda compressão
Tenho e nunca planejo
Está terna escuridão;
Há dores que é minha;
Mesmo na alma vizinha.

Há dores que ouço,
Muito alto cantando;
Em todo nosso,
Mágoa espalhando.
Há dores no vosso;
Coração, e eu sentindo.
Há dor que nos deixa assim;
Mas todas terá um fim

António Vicente Aposiopese

Elegiados

Anos de terna idade

I. Anos de terna idade,
apagado foi da memória;
até Joaquim Mateus sem maldade,
também sobrou-lhe a fúria;
não vieram à cidade,
o luto e tamanha penúria;
das aldeias todos levados foram,
mesmo sabendo que nada fizeram.

Grito das minas

II. Devastado Cacuso foi,
sobrando-lhe apenas ruínas;
nem os seus verdes vistos foi,
após o grito das minas;
arrancado do berço á alma dói,
ditando a dor as sinas;
como se fosse arrancado o coração,
ao peito e colocado na mão.

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